quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

ALCATEIA

Quando era miúdo li várias vezes uma história de amizade entre um menino e um leão. Acho que vem daí a minha aversão aos gatos. Estava sempre à espera que o bicho abrisse a bocarra para comer o menino, coitadinho, que só pretendia afagar a juba do leão. Nem Yann Martel me conseguiu fazer mudar de opinião com o tigre Pi. Os felinos são traiçoeiros, não se pode confiar neles. E mijam para marcar território. Mesmo domesticáveis e obedientes como animais de circo — já vi um gato a andar de bicicleta —, são bichos com humores tão volúveis como o vento. É para onde estão voltados. Isto é coisa que não aturo num ser humano, quanto mais num gato. Os cães não são fiéis como se diz, trocam-nos por um osso e fogem com frequência. Muito mais do que os gatos, que são insuportavelmente territoriais. É um bicho capitalista, burguês, dado à propriedade, ao contrário dos cães, que actuam em função do colectivo. Uma matilha de lobos é um ensinamento para a vida, um saco de gatos é o Chega. Há ainda aquela mania de ronronar. Uma chatice.

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