sábado, 19 de março de 2022

DEVASTAÇÃO

 
Nasci em Novembro de 1974. Cresci a ouvir notícias sobre sucessivos passos para a paz na guerra civil de Angola. Da guerra Afegã-Soviética chegaram-me os primeiros ecos num "Rambo", muito depois do imaginário de guerra haver sido desenhado por inúmeros filmes e livros acerca da II Grande Guerra e dos conflitos no Vietname. A guerra do Golfo foi a primeira a que assisti em directo na televisão. Depois desta, a Bósnia e o Kosovo, Sarajevo totalmente destruída, as guerras do Congo, Eritreia, Etiópia... e Gaza, sempre Gaza. Desde sempre aquele ódio entre Israel e a Palestina no horizonte. O 11 de Setembro de 2001 e a caça às bruxas que se lhe seguiu, com a invasão do Iraque em 2003. A Tchetchénia, outro nome desgraçado no mapa, tal como a Palestina e o Afeganistão. E as primaveras árabes na Líbia, na Síria, no Iémen, no Sudão (ainda alguém se recordará do Darfur?). Ricas primaveras. Estava a esquecer-me do genocídio no Ruanda, que deu um filme chocante. As investidas do Daesh um pouco por todo o mundo, na sequência da invasão do Iraque. Os escândalos de Abu Ghraib, Guantánamo, as denúncias de Chelsea Manning, Edward Snowden, Julian Assange. E a Amazónia a arder, outra forma de guerra, as populações indígenas em extinção, o genocídio de Myanmar, a perseguição aos uigures na China e aos curdos na Turquia. Enfim, nestes 47 anos de vida sempre me lembro do mundo neste estado miserável. Aconselham-me a olhar para as coisas boas e é isso que faço, mas nem por isso as más desaparecem. A destruição na Ucrânia é mais um episódio neste longo cardápio de devastação. Não sei se tem algo de diferente, sei que estamos todos muito expostos à exibição do que ali se passa. E é terrível, é absurdo, é, mais uma vez, um desperdício de vida sem explicação.

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