Nasci em Novembro de 1974. Cresci a ouvir notícias sobre sucessivos passos para a paz na guerra civil de Angola. Da guerra
Afegã-Soviética chegaram-me os primeiros ecos num "Rambo", muito
depois do imaginário de guerra haver sido desenhado por inúmeros filmes e livros
acerca da II Grande Guerra e dos conflitos no Vietname. A guerra do Golfo foi a
primeira a que assisti em directo na televisão. Depois desta, a Bósnia e o
Kosovo, Sarajevo totalmente destruída, as guerras do Congo, Eritreia,
Etiópia... e Gaza, sempre Gaza. Desde sempre aquele ódio entre Israel e a
Palestina no horizonte. O 11 de Setembro de 2001 e a caça às bruxas que se lhe seguiu, com a invasão do Iraque em 2003. A Tchetchénia, outro nome desgraçado
no mapa, tal como a Palestina e o Afeganistão. E as primaveras árabes na Líbia,
na Síria, no Iémen, no Sudão (ainda alguém se recordará do Darfur?). Ricas
primaveras. Estava a esquecer-me do genocídio no Ruanda, que deu um filme
chocante. As investidas do Daesh um pouco por todo o mundo, na sequência da
invasão do Iraque. Os escândalos de Abu Ghraib, Guantánamo, as denúncias de
Chelsea Manning, Edward Snowden, Julian Assange. E a Amazónia a arder, outra forma
de guerra, as populações indígenas em extinção, o genocídio de Myanmar, a
perseguição aos uigures na China e aos curdos na Turquia. Enfim, nestes 47 anos
de vida sempre me lembro do mundo neste estado miserável. Aconselham-me a olhar
para as coisas boas e é isso que faço, mas nem por isso as más desaparecem. A
destruição na Ucrânia é mais um episódio neste longo cardápio de devastação.
Não sei se tem algo de diferente, sei que estamos todos muito expostos à
exibição do que ali se passa. E é terrível, é absurdo, é, mais uma vez, um
desperdício de vida sem explicação.
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