SEGUNDA EPÍSTOLA
AOS POETAS DO MEU
PAÍS
Acorda, absorto
poeta;
tu que ao apagar das
luzes
emudeces também
na fila de trás,
faz-te agora à pedra
e ao pau,
por saberes que este
mundo mau
é do lobo e do
lacrau,
e o tempo admonitório
te espreita, poeta,
e por tropos que
alinhaves,
pressagos, escapas à
íngreme derrota.
Toma nota:
onde golfa, claro, o
sangue do extermínio,
acolhe-se também a
mais subtil ilusão,
que incuba a dúvida,
finta a razão
lapidada do lado onde
a vida dessangrara
e a temeridade esteve
a soldo
duma negra glória.
É a descer, poeta,
que te dás conta como
estreitas
são as veredas e
enganosos os sinais,
mas desembocas onde
não se leiloa
a reparação, pois a
desova do terror
constelou cada pedra
do teu ser.
Desce agora mais
fundo, poeta:
o tempo exige que
afeiçoes a lâmina
à intérmina
rebentação do murmúrio
inevitável. Não
compres o conforto
do silêncio, poeta,
nem que o olvido
se encarnice sobre gerações
de danados, ou o deus acenda
flashes
para a tua restrita
glória;
é cedo, poeta, que o
teu empenho
assinala
o sangue dos séculos
(desses
que em desabrido rasgão
imprimem sobre a tua pele a precoce
vocação
para o desmoronamento)
e a demorada luz te
diz que agora
termina o exílio,
porque, entre
infinitas ruínas,
entrançados os
vínculos
que o terror cindiu,
guardaste
as últimas palavras
desses
que atravessaram as
águas do verde
cabo para a pátria
que há-de ser.
José Luiz Tavares
1 comentário:
Talvez a pátria que há-de ser não tenha nações mas essa é outra conversa. O texto que te mando abaixo começa com a pergunta: como devem os poetas reagir à guerra? Começa pelo caso do Yeats que primeiro achava que o melhor era ficar calado e depois…
https://www.poetryfoundation.org/articles/69902/100-years-of-poetry-the-magazine-and-war
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