O que mudou de 2003 para 2022? No essencial… nada. A banalidade do mal em 1945 repetiu-se em 2003, acrescentada da mediatização do horror, e repete-se agora com as redes sociais a servirem de palco para a exibição incessante da morte, da crueldade, da ruína. Das imagens de soldados russos capturados à barbárie pop das forças chechenas que servem a Federação Russa, dos cadáveres de civis espalhados pelas ruas de Bucha à execução de militares em agonia, dos ucranianos que atiram sobre os joelhos de russos capturados aos russos que largam bombas sobre hospitais e teatros e o mais que se possa imaginar, é todo um cardápio de violência servido a toda a hora em qualquer lugar. Já vimos filmes semelhantes, pelo que só podemos esperar pior. Chelsea Manning é nome que devia ser mais vezes referido, Abu Ghraib não devia ter caído no esquecimento. A destruição das cidades ucranianas invadidas pelas forças russas era previsível e não vai parar enquanto o ódio continuar a ser alimentado. A Ucrânia pede mais armas, armas, armas, a OTAN está disposta a fornecer. Qual a solução? A Ucrânia não devia ter sido invadida, mas foi. A Federação Russa não devia ter invadido, mas invadiu. E agora? Deverá a Ucrânia resistir até não sobrar um edifício de pé? Deverá a UE e os EUA, que é o mesmo que dizer OTAN, intervir correndo o risco de arrastar o mundo para o nuclear? A softwerização da banalidade do mal extrema posições e impede diálogos, debates, conversações, já de si difíceis de imaginar. Qual a solução? O que julgarão os civis das redes sociais, cujo ódio destila e ferve, o que julgarão eles que pode ser feito para além de apoiar deslocados? Passar o tempo a discutir o sexo dos anjos? Não vejo praticamente ninguém empenhado em pôr água na fervura. Não vejo praticamente ninguém interessado numa paz que não será possível sem que as partes beligerantes se sentem à mesa e conversem seriamente sobre o que ambas pretendem. É preciso mediadores. Quem? A softwarização da banalidade do mal não tem ajudado, não vai ajudar. Só o ódio será vencedor.
segunda-feira, 11 de abril de 2022
SOFTWERIZAÇÃO DA BANALIDADE
O que mudou de 2003 para 2022? No essencial… nada. A banalidade do mal em 1945 repetiu-se em 2003, acrescentada da mediatização do horror, e repete-se agora com as redes sociais a servirem de palco para a exibição incessante da morte, da crueldade, da ruína. Das imagens de soldados russos capturados à barbárie pop das forças chechenas que servem a Federação Russa, dos cadáveres de civis espalhados pelas ruas de Bucha à execução de militares em agonia, dos ucranianos que atiram sobre os joelhos de russos capturados aos russos que largam bombas sobre hospitais e teatros e o mais que se possa imaginar, é todo um cardápio de violência servido a toda a hora em qualquer lugar. Já vimos filmes semelhantes, pelo que só podemos esperar pior. Chelsea Manning é nome que devia ser mais vezes referido, Abu Ghraib não devia ter caído no esquecimento. A destruição das cidades ucranianas invadidas pelas forças russas era previsível e não vai parar enquanto o ódio continuar a ser alimentado. A Ucrânia pede mais armas, armas, armas, a OTAN está disposta a fornecer. Qual a solução? A Ucrânia não devia ter sido invadida, mas foi. A Federação Russa não devia ter invadido, mas invadiu. E agora? Deverá a Ucrânia resistir até não sobrar um edifício de pé? Deverá a UE e os EUA, que é o mesmo que dizer OTAN, intervir correndo o risco de arrastar o mundo para o nuclear? A softwerização da banalidade do mal extrema posições e impede diálogos, debates, conversações, já de si difíceis de imaginar. Qual a solução? O que julgarão os civis das redes sociais, cujo ódio destila e ferve, o que julgarão eles que pode ser feito para além de apoiar deslocados? Passar o tempo a discutir o sexo dos anjos? Não vejo praticamente ninguém empenhado em pôr água na fervura. Não vejo praticamente ninguém interessado numa paz que não será possível sem que as partes beligerantes se sentem à mesa e conversem seriamente sobre o que ambas pretendem. É preciso mediadores. Quem? A softwarização da banalidade do mal não tem ajudado, não vai ajudar. Só o ódio será vencedor.
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7 comentários:
Deveria a República Espanhola ter resistido até 1939 ou deveria ter capitulado em 1936?
Espanha foi invadida por uma superpotência nuclear? Não sabia.
Ah, estou a ver, a arma nuclear é um «passe-partout», uma carta-branca para invadir o que se entender.
A arma nuclear é um argumento que não havia. Agora há. Boa leitura:
http://universosdesfeitos-insonia.blogspot.com/2022/04/aventurismo-extremamente-perigoso.html
Será que um pais não pode decidir democraticamente o seu destino? Será que não pode resistir se for invadido por outro mais forte? Será que a vítima é o culpado? E se os russos não forem parados, será que pararão? Porque haveriam de o fazer? De quem têm medo os suecos e finlandeses?
Hoje são os Ucrnianos que dizem "No pasarán!" e que resistem. Também por nós.
Será que um pais não pode decidir democraticamente o seu destino?
Pode e deve.
Será que não pode resistir se for invadido por outro mais forte?
Pode.
Será que a vítima é o culpado?
Se é vítima, então não é culpado. Seria uma contradição nos termos.
E se os russos não forem parados, será que pararão?
Ah, estava a falar do conflito na Ucrânia? Não percebi. É que em 2014 houve um governo democraticamente eleito derrubado à força, o que muda ligeiramente o cenário na primeira pergunta. A resposta à segunda mantém-se, acrescentando-se: sofrendo as consequências. A terceira só será um problema se não aceitarmos que: a invasão da Ucrânia pela Federação Russa jamais deveria ter acontecido, a guerra no Donbass jamais deveria ter começado em 2014. Eu cá aceito ambas as premissas. Os russos poderão ser parados, sim, se o EUA e a UE entrarem no conflito e a China e o Irão e a Índia e a Coreia do Norte não intercederem pela Federação Russsa. Israrel também tem sido aliada de Putin, pelo que seria duvidosa a sua posição. A Arábia Saudita, aliada dos EUA, não me parece que pretenda conflitos nem com uns nem com outros. Enfim, é um cenário de dúvida tremendo com muitas bombas nucleares no arsenal. Eu, objector de consciência assumido, não combaterei se a guerra se estender a Portugal. Refugio-me no arquipélago da Berlenga esperando que não cheguem lá os mísseis fabricados pela Alemanha, França, e outros países europeus os foram vendendo a Putin já depois da anexação da Crimeia.
Porque haveriam de o fazer?
O quê?
De quem têm medo os suecos e finlandeses?
Isso é lá com eles. Eu só tenho medo de gente estúpida.
Hoje são os Ucrnianos que dizem "No pasarán!" e que resistem. Também por nós.
Felicidades.
Depois de Maidan a Ucrãnia teve duas eleições. A democracia funcionou. Porém, esta conversa sobre a guerra não vai a lado nenhum. Os nossos lados já estão escolhidos.
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