sexta-feira, 1 de abril de 2022

VÊ DE VLADIMIR, VÊ DE VOLODYMYR

Serei putinista, estalinista, pró-russo se não simpatizar com Volodymyr Zelensky? E se não gostar de Vladimir Putin, isso faz de mim um simpatizante das teses de Stepan Bandera e do Batalhão Azov? Perguntas para o consultório sentimental da revista Maria. Na verdade, não gosto nem de Volodymyr nem de Vladimir. São nomes feios. Quase tão feios quanto Epifânio Carmino, que era o nome de um bom tipo, comercial empenhado, que vendia livros. Lá no bairro também havia uma Branca Alva das Neves. Ironia das ironias, era preta. Posso dizer preta? Será mais correcto negra? Digo sempre preto porque, em sendo branco, digo branco, não digo alabastrino, níveo, nevado, ebúrneo, leitoso, alvejado, clareado, alveiro, alvacento, alvadio. A minha mãe queria baptizar-me Hernâni. Isso sim, seria verdadeiramente traumatizante. Era bem capaz de me transformar em Volodymyr ou Vladimir se me chamasse Hernâni. Olhem um tipo nascer em Valhadolid com o nome Volodymyr. Volodymyr de Valhadolid, até que tem uma certa pinta. VV. Não sei se o V também está sobre fogo, como o Z. É estranho, porque os russos pintaram Zês e Vês nos blindados mas só os Zês têm merecido repúdio. Eu, confesso, gosto muito da letra Z. Espero que não me levem a mal. A letra Z lembra-me abelhas, as abelhas lembram mel, o mel lembra flores, as flores um jardim. O mundo devia ser um jardim de flores com abelhinhas a encher o bandulho de pólen. Por outro lado, não gosto da palavra abelha. Remete-me para Maia, nome que me deixa numa ambivalência incomodativa porque Maia não é apenas um desenho animado simpático. Nem é apenas o capitão Salgueiro (belíssimas plantas) ou o romance de Eça de Queiroz (não me levem a mal que grafe com Z), é os maias, terrível civilização com rituais macabros, sacrifícios humanos, essas coisa que felizmente acabaram. E é a Maya, a taróloga, criatura irritante mais com cara de taradóloga e de taralhoca do que de "figura mais prestigiada e mediática do mundo esotérico nacional" (fim de citação). Isto para dizer que sou pela paz e pelo amor, contra as armas e contra os canhões marchar, marchar. Também sou pelo sexo e pela bebedeira. De resto, tenho pensado muito nisto. Estou absolutamente convencido que nenhum destes conflitos do mundo existiria se a malta fosse mais como eu. Porque será que há gente a alistar-se nos exércitos? Porque será que ainda não puseram um fim à tropa? E porque não fecham as fábricas de armamento militar? Não bastaria cada país ter as suas polícias de segurança pública? Para quê fabricar canhões a mísseis e todas essas porcarias? É muito estranho que as pessoas que não se chamam Volodymyr, Vladimir, Hernâni e Maya não se interroguem sobre estes assuntos. Eu acho que os países não deviam ter fronteiras, os povos deviam curtir todos uns com os outros, muito sexo e muita pinga e bons fumos, tudo em orgias regadas a água de rosas. E se alguém pensasse sequer em alistar-se numa merda de um exército, Will Smiths para cima dele. Como é que chegamos ao século XXI, depois de tanta descoberta científica, tanto progresso, tanta invenção, tanta coisa boa como a pílula do dia seguinte ou a declaração da morte de Deus, e ainda andamos nisto de medir forças enviando para as linhas da frente miúdos que deviam estar a pinar em vez de disparar mísseis? Não se compreende. Quer dizer, até se compreende. Enquanto continuarem a dar os nomes errados às coisas, nada mudará. Não se pode dar o nome de mãe a uma bomba, como fizeram com a mãe de todas as bombas. Vá lá que lhe chamassem Maya, jamais mãe. É isto.

Sem comentários: