domingo, 8 de maio de 2022

FODER NA LOMBARDIA

 


   «Quanto a mim, chegado aqui há alguns dias, já não vendo de tanta abstinência, encontrei uma velha que me lavava as camisas e que vivia numa casa meio enterrada, onde a luz só entrava pela porta. Como passava por lá um dia, pediu-me que entrasse por um momento, pois queria mostrar-me umas belas camisas, para o caso de eu as querer comprar. Então, como um idiota, fui na conversa. Entrei e vi na luz fraca uma mulher com uma toalha na cabeça e no rosto, feita estúpida e enrolada num canto. A velha marafona segurou-me pela mão e conduziu-me até ela: "Aqui está a camisa que lhe quero vender, mas experimente-a primeiro, depois logo paga." Tímido como sou, fiquei completamente apavorado. Todavia, sozinho com ela no escuro (porque a velha saíra logo e fechara a porta), para despachar, fodi-a uma vez. Apesar de lhe ter achado as coxas moles, o sexo húmido e o hálito empestado, o meu desejo era tão forte que gozei.» Ao descobrir a sua fealdade — os cabelos brancos e raros, corpo enrugado e cara deformada, a baba a escorre-lhe da boca desdentada, etc., Maquiavel concluiu a sua narrativa com a esperança de que Deus lhe poupasse o «desprazer» de ter novamente «de foder» na Lombardia. 

Niccolò Machiavelli, numa carta a Luigi Guicciardini, datada de 8 de Dezembro de 1509. Citado por Marie Gaille-Nikodimov, in Maquiavel, Edições 70, Outubro de 2008, pp. 11-12.

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