terça-feira, 26 de julho de 2022

DE EASTWOOD DA SILVA

 310. Vou explicar, malta, porque é que "Deus, Pátria e Família" é considerado um slogan de direita ou mesmo de extrema-direita.
   É evidente que não é. É evidente que é de esquerda. Vejamos.
   A ideia de Deus é a ideia de que há Bem e Mal, de que não é indiferente fazer A ou fazer B, de que devemos pensar nos outros e não só em nós. Isto é, uma ideia que os kapos dos campos de concentração nazis não perfilhavam.
   A ideia de Pátria é a ideia de que há um território que é nosso, dos nossos compatriotas, daqueles com quem estamos unidos pelo sangue, língua, história, cultura e costumes, e que devemos defender esse território e sermos nós a decidir o que nele fazer. Isto é, uma ideia que os que bombardearam os vietnamitas com napalm não perfilhavam.
   A ideia de Família é a de honrar pai e mãe, a de sermos um só com quem vivemos, a de morrermos pelos nossos filhos se for necessário. Isto é, uma ideia que a escumalha (e, por definição e como a vida tem ensinado, a escumalha é de extrema-direita) não perfilha.
   Então, que se passou?
   É que, malta, a direita não é só o Jardim e o Proença. Há uns gajos mais vivos. E esses gajos mais vivos perceberam que propagandear a ideia de que Deus, Pátria e Família é o que não é faria a esquerda não fazer seus esses valores, não os defender, a esses, que têm legitimidade, base objectiva, popularidade e futuro, para se encerrar num ghetto duma pseudo-esquerda modernaça, economicista e com medo de tudo (até dos trabalhadores).

Eastwood da Silva, in 535 Máximas 535, incluindo citações seleccionadas, enigmas, provérbios, frases, convites à reflexão, private jokes, miniaturas à la Hemingway, pensamentos e episódios, & etc, Outubro de 1999, pp. 65-66.

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