sexta-feira, 26 de agosto de 2022

OFICINA DE FORMAS NARRATIVAS BREVES

 


Desta oficina pretende-se que seja um lugar de práticas de leitura e um laboratório de exploração de conceitos literários, tomando o livro enquanto ferramenta e adoptando o texto como material moldável. O que é uma narrativa? A extensão importa? Faz sentido falar de micronarrativa? De onde vem tal conceito? Como surgiu? Poderá o poema ser narrativo? E um aforismo? As fábulas de Esopo eram micronarrativas? E as histórias das “Mil e uma Noites”? Qual a relação entre a tradição oral e o texto escrito no domínio do conto? O que distingue uma fábula de uma lenda? Há alguma diferença entre poema em prosa e conto? Estas serão algumas das questões a que dedicaremos atenção, partindo não apenas do que acerca desta matéria tem sido produzido em contexto académico, mas, antes de mais, dos próprios textos e seus respectivos autores. Deste modo, como escapar às fábulas de Ambrose Bierce ou às “greguerías” de Ramón Gómez de la Serna? Jorge Luis Borges, mestre da prosa curta, será pela certa companhia frequente. Assim como o nonsense de Daniil Kharms, as histórias para onze minutos de István Örkény, os cronópios e as famas de Julio Cortázar, as tisanas de Ana Hatherly, o minimalismo de Raymond Carver, os impressionantes arquivos de factos coleccionados por Eduardo Galeano. Atribui-se a Augusto Monterroso a invenção da micronarrativa com a publicação, em 1959, do conto “O Dinossauro”: «Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá.» E depois? Depois temos o Sr. Keuner de Bertolt Brecht e o gin tónico de Mário-Henrique Leiria, os dramatículos de Beckett mais as corruíras nanicas do Prémio Camões Dalton Trevisan, o poema em prosa de Russell Edson e os aforismos de Karl Kraus, as falsificações de Marco Denevi e a prosa diarística de Ivone Mendes da Silva. E temos surpresas, julgamos, coisas por cá inéditas. E provocações, claro, que o pensamento não carbura se não for afrontado. Tomem lá do Kafka:
 
«Uma gaiola partiu à procura de um pássaro».
 
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