VIF
A
FALÉSIA
Janela entre céu e terra em lugar
desconhecido. Aberta sobre um penhasco incolor. O cume escapa à vista onde quer
que se fixe. Assim como o sopé. Recortado por duas fatias de céu eternamente
branco. Alguma sugestão no céu sobre o fim da terra? O éter além? Nenhum
vestígio de aves marinhas. Ou demasiado pálido para se ver. Enfim, que prova de
um rosto? Nenhuma que a vista vislumbre onde quer que se fixe. Desiste e o
pandemónio começa. Emerge por fim primeiro a sombra do rebordo. A paciência
será animada com restos mortais. Um crânio inteiro surge no fim. Um único entre
aqueles cujos restos evidenciam. Tenta ainda afundar o osso frontal na rocha. O
velho olhar como que mostrando-se no interior das órbitas. Por vezes o penhasco
desaparece. Então o olho esvoaça de uma margem branca à outra margem. Ou por consequência
afasta-se de tudo.
“La Falaise”/”The Cliff”, texto de
Samuel Beckett, datado de 1975, dedicado ao pintor holandês Bram van Velde
(1895-1981). Tradução de HMBF.
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