domingo, 15 de janeiro de 2023

LEI DAS PRIORIDADES

 
Bem me recordo do problema que foi quando a lei do atendimento prioritário entrou em vigor. Natal caótico, com deficientes de canadianas aos berros com outros de cadeira de rodas e cegos de bengala a discutir quem tinha prioridade sobre quem. E havia os velhos, sempre dados a velhas discussões, às turras uns com os outros sobre quem era mais velho. Todos queriam passar à frente na bicha. Pior quando apareciam grávidas. Está de quantos meses? Sete. Eu estou de oito, dizia aquela chegando-se à dianteira. E nisto uma velha puxava-a para trás aos berros: você 'tá é balofa. Uma vez, apanhei com um idoso, um cego, uma grávida e uma pessoa acompanhada de criança de colo na mesma bicha. O idoso achava que tinha prioridade sobre a pessoa acompanhada da criança de colo porque a criança não estava exactamente ao colo, estava num carrinho. Aos berros. A pessoa com a criança julgava ter prioridade sobre o cego porque este não se apresentava numa cadeira de rodas, como determinava a sinalética sobre prioridades. Atendi a grávida enquanto os outros discutiam. No final, pediram o livro de reclamações denunciando na exposição à ASAE a atitude discriminatória do empregado. Que eu tinha dado prioridade à grávida por supor que ela merecia uma deferência que o velho, o cego e a criança de colo não inspiravam. Enfim, inventam estas leis só para chatear quem serve ao balcão. O resto é conversa.

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