Bem me recordo do problema que foi quando a lei do
atendimento prioritário entrou em vigor. Natal caótico, com deficientes de
canadianas aos berros com outros de cadeira de rodas e cegos de bengala a
discutir quem tinha prioridade sobre quem. E havia os velhos, sempre dados a
velhas discussões, às turras uns com os outros sobre quem era mais velho. Todos
queriam passar à frente na bicha. Pior quando apareciam grávidas. Está de
quantos meses? Sete. Eu estou de oito, dizia aquela chegando-se à dianteira. E nisto
uma velha puxava-a para trás aos berros: você 'tá é balofa. Uma vez, apanhei
com um idoso, um cego, uma grávida e uma pessoa acompanhada de criança de colo
na mesma bicha. O idoso achava que tinha prioridade sobre a pessoa acompanhada
da criança de colo porque a criança não estava exactamente ao colo, estava num
carrinho. Aos berros. A pessoa com a criança julgava ter prioridade sobre o
cego porque este não se apresentava numa cadeira de rodas, como determinava a sinalética sobre prioridades. Atendi a grávida enquanto os outros discutiam.
No final, pediram o livro de reclamações denunciando na exposição à ASAE a
atitude discriminatória do empregado. Que eu tinha dado prioridade à grávida
por supor que ela merecia uma deferência que o velho, o cego e a criança de
colo não inspiravam. Enfim, inventam estas leis só para chatear quem serve ao
balcão. O resto é conversa.
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