Ai, ai
a nossa obscura forma de ser tédio
enquanto a mulher varre
as escadas do prédio
e os ciganos jogam bola ao largo
e os pombos pedem esmola
ao desempregado
o cão que ladra no peito
olhos picados por mosquitos
pranto no leito
entrando vão os fantasmas
desta Primavera que passeia
com o nojo de mãos dadas
e o anelar despido
a turbamurcha que infrene
cai nas redes, morde o isco
a gritar para dentro comichões
Que ninguém te ouça
é sexta-feira
véspera de assoprar tições
"a nossa obscura forma de ser tédio" é o último verso do poema "Áspro Áspero Romanceiro", de José Afonso.
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:)
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