Falta-nos tempo. Escuto isto com frequência assustadora. Tradutores, argumentistas, realizadores, gente do ofício criativo com quem vou falando, todos partilham deste flagelo que é a falta de tempo. Num mundo cada vez mais acelerado, o tempo tem vindo a ser sopesado com balanças calibradas pela lógica do resultadismo. É uma lógica inimiga da reflexão e da experimentação, é uma lógica que não quer saber de estética nem de ética, imersa que está no marketing e na economia e na gestão. A própria escola é vítima deste ambiente. Rendida ao entretenimento, a escola transformou-se numa sucessão de eventos inconsequentes. Alunos e professores são subjugados ao que ainda é dado o nome de aulas, mas onde já não há tempo para debater, discutir, pensar. Nem tempo nem disponibilidade, porque há programas a cumprir e grelhas a preencher e resultados a mostrar. O resultado mais visível é o que temos à vista de todos, caracterizado essencialmente pelo total desinteresse e até menosprezo por tudo quanto seja social e humano e artístico e filosófico e criativo. Não nos resta senão ter esperança e apostar energias numa inflexão do cenário, mas temo por uma das partes nesta batalha. O tecnológico já ganhou, com os seus algoritmos e a inteligência artificial e os seus automatismos. Esperemos que o espírito crítico não saia totalmente derrotado. Já agora, se buscarem no Google antónimos de "tecnológico" sai-vos isto: retrógrado, antiquado, arcaico, antigo, ultrapassado, obsoleto, convencional, conservador, tradicionalista, regressista, anacrônico, desatualizado, desusado, quadrado. Creio que é uma paisagem eloquente do que temos diante dos olhos e não queremos ver.
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