quinta-feira, 22 de agosto de 2024

PAÍS DE GÓTICOS

 
Diz Carlos Matos, organizador do festival Extramuralhas: “Todos os portugueses são góticos, só que alguns não têm noção disso”. Adoro estas generalizações, fico logo com a cabeça a ferver em busca de excepções que as desmintam. Neste caso, é difícil. De facto, há um lado gótico na Senhora Dona Helena Sacadura Cabral. É do romantismo. O mesmo se passa com Zézé Camarinha, um gótico pós-moderno da "beach sexuality". Mas não quero inventar nem confundir. Maria Leal é a gótica par excellence dos tempos modernos, tal como o bizarro Zé Cabra (a última vez que apareceu estava a cuidar da horta, que dá repolhos góticos). Por gótico entenda-se uma certa inclinação para a soturnidade, a celebração da lua cheia que activa paixões e faz lobos uivarem. Entenda-se também o culto a satã, por oposição às convenções castradoras do catolicismo. Os bispos de Braga são góticos, só que às escondidas. Portanto, gótico são todos os portugueses porque neles se conjuga o fatalismo de faca e alguidar e a hipocrisia das paixões reprimidas. A gente olha para Cavaco e vê um gótico, a fazer coisas com a sua Maria ao som de Bauhaus e The Sisters of Mercy. Aposto que, pela calada, pintam os lábios de preto e excitam-se com massagens de velas. Mas o gótico dos góticos nesta nação gótica é mesmo o Dr. Sapo com a sua liturgia do poder. Aquilo da coelha era só para disfarçar, se bem que os góticos também gostem de coelhos. Passados, crucificados, reverentes, mártires com tendências sadomasoquistas.

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