“Black, Brown and Beige”, Duke
Ellington.
Há uma magia nestas gravações
antigas que nenhuma tecnologia moderna logra superar. Meto os auscultadores e
delicio-me a dividir a atenção por cada instrumento, a secção rítmica, os
metais, o piano. Do maestro Duke Ellington há muito por onde escolher, mas esta
gravação das apresentações no Carnegie Hall em 1943 leva-me às nuvens.
Estávamos em plena Segunda Guerra Mundial, Ellington apresentava ao público
norte-americano a mais elaborada e ambiciosa das suas peças: “Black, Brown and Beige”.
Entre composições divertidas como “Jumpin’ Punkins” ou a celebração fúnebre em
dois tempos — “Dirge” e “Stomp” — de Billy Strayhorn, com Ray Nance a brilhar
no trompete, Ben Webster no saxofone tenor e Johnny Hodges no saxofone alto,
este tríptico dedicado à história dos afro-americanos era de uma sofisticação
inusitada. Nem toda a gente compreendeu, outros terão compreendido e, também
por isso, não gostaram. Glorificar a história dos negros num país de brancos? Que
atrevimento. Com ficha no FBI como apoiante do American Communist Party, este
príncipe da mais bela das músicas de raiz negra sublinhava então a história dos
seus evocando as work songs e os espirituais cantados entre escravos, lembrava
os povos nativos, a participação dos negros nas guerras de um país que os
segregava, o blues das ruas e das casas de má fama, a guerra em curso. No Herald
Tribune, um crítico sentenciava: «Toda a tentativa de transformar o jazz numa
forma de música artística deve ser desencorajada.» Passados 81 anos, ninguém
sabe o nome do tal crítico. É a vida.
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