sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

50 X 14

 


“Black, Brown and Beige”, Duke Ellington.
 
Há uma magia nestas gravações antigas que nenhuma tecnologia moderna logra superar. Meto os auscultadores e delicio-me a dividir a atenção por cada instrumento, a secção rítmica, os metais, o piano. Do maestro Duke Ellington há muito por onde escolher, mas esta gravação das apresentações no Carnegie Hall em 1943 leva-me às nuvens. Estávamos em plena Segunda Guerra Mundial, Ellington apresentava ao público norte-americano a mais elaborada e ambiciosa das suas peças: “Black, Brown and Beige”. Entre composições divertidas como “Jumpin’ Punkins” ou a celebração fúnebre em dois tempos — “Dirge” e “Stomp” — de Billy Strayhorn, com Ray Nance a brilhar no trompete, Ben Webster no saxofone tenor e Johnny Hodges no saxofone alto, este tríptico dedicado à história dos afro-americanos era de uma sofisticação inusitada. Nem toda a gente compreendeu, outros terão compreendido e, também por isso, não gostaram. Glorificar a história dos negros num país de brancos? Que atrevimento. Com ficha no FBI como apoiante do American Communist Party, este príncipe da mais bela das músicas de raiz negra sublinhava então a história dos seus evocando as work songs e os espirituais cantados entre escravos, lembrava os povos nativos, a participação dos negros nas guerras de um país que os segregava, o blues das ruas e das casas de má fama, a guerra em curso. No Herald Tribune, um crítico sentenciava: «Toda a tentativa de transformar o jazz numa forma de música artística deve ser desencorajada.» Passados 81 anos, ninguém sabe o nome do tal crítico. É a vida.

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