"Drumming": Steve Reich
Durante um breve período da minha vida senti enorme fascínio por essa música que dizem ser minimalista. Entre os compositores do género, Steve Reich ocupa um lugar especial. Não me recordo da data exacta em que adquiri “Drumming”, peça de 1970-1971 influenciada por uma viagem ao Gana. É quase certo que me tenha chegado nesses anos de estudo de filosofia da linguagem, quando a obra de Wittgenstein me incendiava as pestanas num sexto andar da Rua actriz Palmira Bastos. A tese de Reich é, precisamente, sobre o filósofo austríaco. Há o filme de Derek Jarman em 1993, pelo que deve ter sido por esses anos que me interessei por Reich, depois por Wim Mertens, Michael Nyman, Philip Glass… Nascido em 1936, ainda vivo, Steve Reich foi um inovador, um experimentalista. Deve-se a ele a ideia de loop com cassetes ou a transposição da técnica de colagem para a música. Os ritmos harmónicos e repetitivos são uma das suas marcas essenciais, curiosamente com forte influência em algumas bandas de rock surgidas a partir do final dos anos de 1970. Os Sonic Youth, por exemplo, adoptaram várias das suas técnicas, como a do feedback produzido por microfones pendulares sobre altifalantes. Pela inversa, também Steve Reich foi mantendo interesse pelas rotas da música contemporânea. Em 2012, compôs uma peça, “Radio Rewrite”, inspirada em duas canções dos Radiohead. É um extraordinário modelo de aproximação entre universos musicais distintos. Isto anda tudo ligado.
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