Esses valores que dizem ser os da nossa cultura não são propriamente da nossa cultura, são fruto de reflexões e de lutas seculares pela sua afirmação. Em essência, a nossa cultura é uma amálgama de culturas. Somos produto do cruzamento de várias culturas. Já na prática, a nossa cultura formou-se sob o jugo da Igreja Católica Apostólica Romana, uma instituição onde, por exemplo, a igualdade entre homens e mulheres não existe. E, no entanto, nós dizemos que a igualdade entre homens e mulheres é um valor da nossa cultura. Não o é de facto, a violência doméstica o demonstra, só o é enquanto horizonte ambicionável por uns e indesejável por outros. Queremos que seja e lutamos para que seja em conflito com os que o não querem. Outro problema será o modo de lidar com práticas culturais para nós inaceitáveis. Penso na mutilação genital, no casamento com menores, na segregação de homossexuais, etc. Como convencer alguém que vem viver para nosso lado de que essas práticas são inaceitáveis? Talvez este não seja um problema de "valores da nossa cultura", mas antes de "normas da nossa sociedade". Se entre as normas e os valores não houvesse conflito, as mulheres portuguesas ainda não teriam voto na matéria. Se depois do 25 de Abril passaram a ter, foi porque um valor maior se levantou na base de lutas que o transformaram em norma.
sábado, 25 de janeiro de 2025
A NOSSA CULTURA
Esses valores que dizem ser os da nossa cultura não são propriamente da nossa cultura, são fruto de reflexões e de lutas seculares pela sua afirmação. Em essência, a nossa cultura é uma amálgama de culturas. Somos produto do cruzamento de várias culturas. Já na prática, a nossa cultura formou-se sob o jugo da Igreja Católica Apostólica Romana, uma instituição onde, por exemplo, a igualdade entre homens e mulheres não existe. E, no entanto, nós dizemos que a igualdade entre homens e mulheres é um valor da nossa cultura. Não o é de facto, a violência doméstica o demonstra, só o é enquanto horizonte ambicionável por uns e indesejável por outros. Queremos que seja e lutamos para que seja em conflito com os que o não querem. Outro problema será o modo de lidar com práticas culturais para nós inaceitáveis. Penso na mutilação genital, no casamento com menores, na segregação de homossexuais, etc. Como convencer alguém que vem viver para nosso lado de que essas práticas são inaceitáveis? Talvez este não seja um problema de "valores da nossa cultura", mas antes de "normas da nossa sociedade". Se entre as normas e os valores não houvesse conflito, as mulheres portuguesas ainda não teriam voto na matéria. Se depois do 25 de Abril passaram a ter, foi porque um valor maior se levantou na base de lutas que o transformaram em norma.
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