No mais recente número da revista COLÓQUIO/Letras, o 218
(Janeiro/Abril de 2025), Agripina Carriço Vieira escreve sobre “Domesticadora
de Girassóis” (Companhia das Ilhas, 2024). Deixo o primeiro parágrafo de um
texto bem mais longo que revela uma leitura atenta e perspicaz:
«São múltiplas as sensações que nos visitam aquando da leitura de
“Domesticadora de Girassóis”, o último livro de Henrique Manuel Bento Fialho,
entremeando-se a inquietação, o desassossego e uma cúmplice envolvência. Desde
o primeiro momento, no contacto com o aparelho paratextual, o leitor é
interpelado por um livro que o desafia. Antes de mais porque se esquiva a
qualquer classificação de género, deixando a quem o lê a possibilidade da livre
descoberta de um conjunto de catorze textos, que se apresentam como se uma
colectânea de contos fossem, mas a que dificilmente podemos atribuir essa
designação. São de dimensão muito variável (ao lado de narrativas de quatro
páginas, outras há mais extensas, a maior das quais com cinquenta e nove
páginas) e de género indefinido, que oscilam entre os registos do conto, do
ensaio, do guião, do diário ou da autobiografia, sem nunca se submeterem às
convenções de cada um dos diferentes géneros. O fundamento deste movimento
subversivo dos códigos literários é-nos dado pela voz que se faz ouvir no
último e mais longo texto do livro, intitulado «Sobre o Autor». Aliando as
dimensões autobiográfica (do ponto de vista do conteúdo) e diarística (em
termos de organização), o leitor é surpreendido por entradas numeradas, que
apresentam 51 marcações temporais, uma por cada ano de vida (a que, com maior
propriedade, devemos designar por anuário), acompanhadas em ocasiões pontuais
por siglas, que intuímos remeterem para locais. É na entrada do ano de 1999 que
a voz autoral confidencia: «Gosto de textos que desrespeitem o estilo, rasurem
a identidade, nada me agrada mais num livro do que não conseguir classificá-lo
quanto ao género e forma» (205). São o gosto e a predilecção pela subversão das
normas, tão desassombradamente enunciados, que moldam, para deleite dos
leitores, este seu “Domesticadora de Girassóis”.»

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