sábado, 1 de fevereiro de 2025

"DOMESTICADORA DE GIRASSÓIS", POR AGRIPINA CARRIÇO VIEIRA

 

No mais recente número da revista COLÓQUIO/Letras, o 218 (Janeiro/Abril de 2025), Agripina Carriço Vieira escreve sobre “Domesticadora de Girassóis” (Companhia das Ilhas, 2024). Deixo o primeiro parágrafo de um texto bem mais longo que revela uma leitura atenta e perspicaz:

«São múltiplas as sensações que nos visitam aquando da leitura de “Domesticadora de Girassóis”, o último livro de Henrique Manuel Bento Fialho, entremeando-se a inquietação, o desassossego e uma cúmplice envolvência. Desde o primeiro momento, no contacto com o aparelho paratextual, o leitor é interpelado por um livro que o desafia. Antes de mais porque se esquiva a qualquer classificação de género, deixando a quem o lê a possibilidade da livre descoberta de um conjunto de catorze textos, que se apresentam como se uma colectânea de contos fossem, mas a que dificilmente podemos atribuir essa designação. São de dimensão muito variável (ao lado de narrativas de quatro páginas, outras há mais extensas, a maior das quais com cinquenta e nove páginas) e de género indefinido, que oscilam entre os registos do conto, do ensaio, do guião, do diário ou da autobiografia, sem nunca se submeterem às convenções de cada um dos diferentes géneros. O fundamento deste movimento subversivo dos códigos literários é-nos dado pela voz que se faz ouvir no último e mais longo texto do livro, intitulado «Sobre o Autor». Aliando as dimensões autobiográfica (do ponto de vista do conteúdo) e diarística (em termos de organização), o leitor é surpreendido por entradas numeradas, que apresentam 51 marcações temporais, uma por cada ano de vida (a que, com maior propriedade, devemos designar por anuário), acompanhadas em ocasiões pontuais por siglas, que intuímos remeterem para locais. É na entrada do ano de 1999 que a voz autoral confidencia: «Gosto de textos que desrespeitem o estilo, rasurem a identidade, nada me agrada mais num livro do que não conseguir classificá-lo quanto ao género e forma» (205). São o gosto e a predilecção pela subversão das normas, tão desassombradamente enunciados, que moldam, para deleite dos leitores, este seu “Domesticadora de Girassóis”.»

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