"Para os de fora há tudo, para os de cá não há
nada." "Andam a dar casas aos ciganos, mas para as pessoas normais
não há nada."
É com este tipo de discurso que André Ventura seduz o seu
eleitorado. Não vale sequer a pena tentar desmontá-lo com argumentos que provem
a falácia, as pessoas que se deixam seduzir por isto não querem saber de
argumentos nem estão interessadas em falácias. Querem bodes expiatórios, bodes
expiatórios para os males do mundo e para as injustiças que vêem à sua volta.
Não contam os males que medram nas raízes da comunidade, aquele que bate na
mulher, aquela que rouba no shopping, o filho da outra que anda a vender droga,
o emprego de merda e mal pago que me traz frustrado o dia inteiro, este que
conduz sem carta, o que enriqueceu de um momento para o outro, sabe-se lá como,
o cabrão do patrão que me humilha, o que se gaba de não pagar impostos, a que
mete os cornos ao marido, o que deu tudo à amante, a que roubou os próprios
filhos, o que passa a vida nas putas, o meu filho que ganha mais do que eu que
trabalho há 30 anos mas nunca quis estudar, o viciado em jogo, a que estoura a
fortuna dos pais, o bêbado, o drogado, etc, etc, etc... Esses são males de que
se fala pela calada, baixinho, para não gerar confusões, porque, afinal,
ninguém tem nada a ver com isso. Não importa o filho da Maria não querer
trabalhar, importam os imigrantes que vêm roubar o trabalho dos que não querem
trabalhar. Não importa a filha do Manuel que não tem casa porque jamais iria
viver para o bairro dos ciganos, importa é a casa social arrendada aos ciganos.
Arrendada não, dada, porque aos ciganos dá-se tudo. Enfim, retirem do discurso
de André Ventura o nós e os outros, retirem a palavra imigrante e a palavra
cigano e fica uma mão cheia de nada, um vazio absoluto. As pessoas que se
deixam seduzir pelas aldrabices do Ventura não estão minimamente interessadas
nas soluções para o país, essa coisa do IRC, das tarifas, tudo isso é muito
complexo e chato e entediante. Elas não querem saber de soluções, muito menos
estão disponíveis para aceitar que parte do problema são elas próprias ao
julgarem os males do mundo não pelo que podiam fazer e não fazem para o mundo
ser melhor, mas pelos outros, sempre os outros, os culpados disto tudo. Porque
nós somos perfeitos, impecáveis, não mentimos, não pecamos, não invejamos, não
odiamos, nós somos mesmo muito bons, agora os outros...
Sem comentários:
Enviar um comentário