sexta-feira, 11 de abril de 2025

O CANTO DA SEREIA

 
"Para os de fora há tudo, para os de cá não há nada." "Andam a dar casas aos ciganos, mas para as pessoas normais não há nada."

 
É com este tipo de discurso que André Ventura seduz o seu eleitorado. Não vale sequer a pena tentar desmontá-lo com argumentos que provem a falácia, as pessoas que se deixam seduzir por isto não querem saber de argumentos nem estão interessadas em falácias. Querem bodes expiatórios, bodes expiatórios para os males do mundo e para as injustiças que vêem à sua volta. Não contam os males que medram nas raízes da comunidade, aquele que bate na mulher, aquela que rouba no shopping, o filho da outra que anda a vender droga, o emprego de merda e mal pago que me traz frustrado o dia inteiro, este que conduz sem carta, o que enriqueceu de um momento para o outro, sabe-se lá como, o cabrão do patrão que me humilha, o que se gaba de não pagar impostos, a que mete os cornos ao marido, o que deu tudo à amante, a que roubou os próprios filhos, o que passa a vida nas putas, o meu filho que ganha mais do que eu que trabalho há 30 anos mas nunca quis estudar, o viciado em jogo, a que estoura a fortuna dos pais, o bêbado, o drogado, etc, etc, etc... Esses são males de que se fala pela calada, baixinho, para não gerar confusões, porque, afinal, ninguém tem nada a ver com isso. Não importa o filho da Maria não querer trabalhar, importam os imigrantes que vêm roubar o trabalho dos que não querem trabalhar. Não importa a filha do Manuel que não tem casa porque jamais iria viver para o bairro dos ciganos, importa é a casa social arrendada aos ciganos. Arrendada não, dada, porque aos ciganos dá-se tudo. Enfim, retirem do discurso de André Ventura o nós e os outros, retirem a palavra imigrante e a palavra cigano e fica uma mão cheia de nada, um vazio absoluto. As pessoas que se deixam seduzir pelas aldrabices do Ventura não estão minimamente interessadas nas soluções para o país, essa coisa do IRC, das tarifas, tudo isso é muito complexo e chato e entediante. Elas não querem saber de soluções, muito menos estão disponíveis para aceitar que parte do problema são elas próprias ao julgarem os males do mundo não pelo que podiam fazer e não fazem para o mundo ser melhor, mas pelos outros, sempre os outros, os culpados disto tudo. Porque nós somos perfeitos, impecáveis, não mentimos, não pecamos, não invejamos, não odiamos, nós somos mesmo muito bons, agora os outros...

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