sábado, 19 de abril de 2025

UM POEMA DE FILIPE HOMEM FONSECA

 


TEMO A DISTÂNCIA ENTRE ROTINA E ESQUECIMENTO,
aborrece-me a queda de catedrais e desprezo
a colisão das vontades. Quando as veias me cobriam
o corpo de percentagens e rendas em atraso,
confiei em profetas e subi aos telhados, contratei
quem duvidasse por mim, paguei com notas
fora de circulação. Lambi a palma das tuas mãos
para te ler o destino, para nos calcular o desvio.
Encontrei-nos fadados às filas intermináveis,
à sopa a escaldar, a marcarmos encontros
para antes de qualquer um de nós ter nascido.

Filipe Homem Fonseca, in Última refeição antes de mim, Companhia das Ilhas, Março de 2025, p. 49,


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