segunda-feira, 26 de maio de 2025

50 X 32

 



“In a Bar, Under the Sea”: dEUS
 
Foi numa dessas noites de insónia com a TV ligada em parabólica, dEUS mostrava-se-me com estrondo numa reportagem sobre um ritual satânico lá para os lados de Antuérpia. “Worst Case Scenario” (1994) acabara de sair e eu estava agarrado. Uns meses depois, não muitos, fui à Queima das Fitas vê-los pela primeira vez ao vivo. dEUS era plural e ecuménico, tinha trejeitos rock e atitude punk, misturava guitarras distorcidas com violinos diabólicos. Depois do concerto, Tom Barman, Stef Kamil Carlens e outros andavam pelas barracas a brindar com caipirosca. Meti-me pelo meio e foi uma festa. Uns anos depois, dez, para ser preciso, viajei até ao Porto para os ver na Casa da Música. Calhou apanhá-los à saída do edifício e saquei-lhes autógrafos nos CDs que trazia comigo. Infelizmente, Stef Kamil Carlens já abandonara a banda para formar os Moondog Jr, embrião dos também recomendáveis Zita Swoon. Outros, como Rudy Trouvé, também haviam partido para aventuras mais experimentais do tipo Kiss My Jazz. Estes belgas pariram muita coisa sob influência de Zappa, Tom Waits & eteceteras. Pelo meio há, no entanto, esse concerto inesquecível na Aula Magna a um 24 de Abril com direito a apagão. Grande momento nos ofereceu a banda nessa noite, aproveitando a falta de electricidade para nos presentear com uma performance acústica difícil de esquecer. Foi das coisas mais divinas que me aconteceram em matéria de concertos. Tornei-me crente nessa noite, graças a dEUS. O multifacetado Tom Barman, compositor da maioria das canções, também se dedicou ao cinema. Vi “Para Onde o Vento Sopra” nos saudosos King, salvo erro. Não guardo boas memórias do filme, uma coisa estilizada sobre a noite da rapaziada alternativa lá nas bélgicas. Desinteressei-me de dEUS depois de “Vantage Point” (2008), mas “In a Bar, Under the Sea” (1996) continua a ser um dos meus discos preferidos de sempre. A par do primeiro. Entre os dois deste dEUS, venho o diabo e escolha. Hoje aposto nos egundo, mas só por causa destas linhas: «Under the sea, is where I’ll be / No talking bout the rain no more.»

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