“In a Bar, Under the Sea”: dEUS
Foi numa dessas noites de
insónia com a TV ligada em parabólica, dEUS mostrava-se-me com estrondo numa
reportagem sobre um ritual satânico lá para os lados de Antuérpia. “Worst Case
Scenario” (1994) acabara de sair e eu estava agarrado. Uns meses depois, não
muitos, fui à Queima das Fitas vê-los pela primeira vez ao vivo. dEUS era plural
e ecuménico, tinha trejeitos rock e atitude punk, misturava guitarras
distorcidas com violinos diabólicos. Depois do concerto, Tom Barman, Stef Kamil
Carlens e outros andavam pelas barracas a brindar com caipirosca. Meti-me pelo
meio e foi uma festa. Uns anos depois, dez, para ser preciso, viajei até ao
Porto para os ver na Casa da Música. Calhou apanhá-los à saída do edifício e
saquei-lhes autógrafos nos CDs que trazia comigo. Infelizmente, Stef Kamil
Carlens já abandonara a banda para formar os Moondog Jr, embrião dos também
recomendáveis Zita Swoon. Outros, como Rudy Trouvé, também haviam partido para
aventuras mais experimentais do tipo Kiss My Jazz. Estes belgas pariram muita
coisa sob influência de Zappa, Tom Waits & eteceteras. Pelo meio há, no
entanto, esse concerto inesquecível na Aula Magna a um 24 de Abril com direito
a apagão. Grande momento nos ofereceu a banda nessa noite, aproveitando a falta
de electricidade para nos presentear com uma performance acústica difícil de
esquecer. Foi das coisas mais divinas que me aconteceram em matéria de
concertos. Tornei-me crente nessa noite, graças a dEUS. O multifacetado Tom
Barman, compositor da maioria das canções, também se dedicou ao cinema. Vi “Para
Onde o Vento Sopra” nos saudosos King, salvo erro. Não guardo boas memórias do
filme, uma coisa estilizada sobre a noite da rapaziada alternativa lá nas
bélgicas. Desinteressei-me de dEUS depois de “Vantage Point” (2008), mas “In a
Bar, Under the Sea” (1996) continua a ser um dos meus discos preferidos de
sempre. A par do primeiro. Entre os dois deste dEUS, venho o diabo e escolha. Hoje
aposto nos egundo, mas só por causa destas linhas: «Under the sea, is where I’ll
be / No talking bout the rain no more.»

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