O nosso país foi sempre isto, qualquer pessoa que leia um pouco de história rapidamente se apercebe que, mais coisa, menos coisa, andamos há 882 anos a empurrar com a barriga, a varrer para debaixo do tapete, a olhar por cima do ombro, a mijar contra o vento, a assobiar para o lado. Os melhores foram daqui para fora, fossem eles o Camões do velho do Restelo ou Fernão Mendes Pinto da "Peregrinação", fossem estrangeirados como Cavaleiro de Oliveira, que ao longe descobriu em Portugal um relógio atrasado pela Inquisição, ou o Pimenta do filho-da-puta ou mesmo o Saramago insular (nosso único Nobel da Literatura) ou até o Fernando Pessoa que, atracado em Lisboa, consumiu a curta vida a delirar com barcos e marinheiros. Não indo muito para trás, tomando como ponto de partida esse ano de esperança que foi o de 1910, de lá para cá aguentámos 50 anos de ditadura, mais um relógio atrasado pela Inquisição, e outros 50 de democracia aos solavancos, sempre muito beatos e reverentes e de mão estendida a quem nos trai. Em democracia, um salazarento Cavaco andou pelo poder 20 anos, de mão dada com seus amigos Oliveira Costa e Ricardo Salgado, só dois dos maiores ladrões deste país. E levámos com o Sócrates, o princípio do fim de uma suposta credibilidade à esquerda, mais uns quantos enredados em casos e casinhas. A confiança nas instituições, dizem eles, a separação de poderes, apregoam, a credibilidade da classe política, alardeiam, enquanto o povo se desmerda a inventar o dia-a-dia, entretido com festas, festinhas e festivais, para variar do fado, futebol e Fátima. No fundo, fomos sempre "esta porra triste". O que agora chateia mais, o que agora incomoda, é a profusão de altifalantes, estas colunas por todo o lado aos berros, estes amplificadores ruidosos. Se pudessem todos falar um pouco mais baixinho, por favor, se pudessem, pelo menos, não impor a vossa gritaria à minha absoluta necessidade de silêncio. É que falam todos tão alto e tanto, e eu para aqui a desesperar de ouvi-los para onde quer que me volte porque onde quer que esteja lá estão também eles com as suas certezas absolutas, as suas máximas e axiomas, os seus estereótipos e frases feitas e lugares-comuns e preconceitos que querem, fazem questão, insistem em impor aos outros como se estivéssemos todos obrigados a viver a mesma vida. Não, muito agradecido, vivam a vossa e não me fodam. Se puderem falar só um bocadinho mais baixo, já vos ficarei eternamente agradecido.
sábado, 31 de maio de 2025
MAIS DO MESMO
O nosso país foi sempre isto, qualquer pessoa que leia um pouco de história rapidamente se apercebe que, mais coisa, menos coisa, andamos há 882 anos a empurrar com a barriga, a varrer para debaixo do tapete, a olhar por cima do ombro, a mijar contra o vento, a assobiar para o lado. Os melhores foram daqui para fora, fossem eles o Camões do velho do Restelo ou Fernão Mendes Pinto da "Peregrinação", fossem estrangeirados como Cavaleiro de Oliveira, que ao longe descobriu em Portugal um relógio atrasado pela Inquisição, ou o Pimenta do filho-da-puta ou mesmo o Saramago insular (nosso único Nobel da Literatura) ou até o Fernando Pessoa que, atracado em Lisboa, consumiu a curta vida a delirar com barcos e marinheiros. Não indo muito para trás, tomando como ponto de partida esse ano de esperança que foi o de 1910, de lá para cá aguentámos 50 anos de ditadura, mais um relógio atrasado pela Inquisição, e outros 50 de democracia aos solavancos, sempre muito beatos e reverentes e de mão estendida a quem nos trai. Em democracia, um salazarento Cavaco andou pelo poder 20 anos, de mão dada com seus amigos Oliveira Costa e Ricardo Salgado, só dois dos maiores ladrões deste país. E levámos com o Sócrates, o princípio do fim de uma suposta credibilidade à esquerda, mais uns quantos enredados em casos e casinhas. A confiança nas instituições, dizem eles, a separação de poderes, apregoam, a credibilidade da classe política, alardeiam, enquanto o povo se desmerda a inventar o dia-a-dia, entretido com festas, festinhas e festivais, para variar do fado, futebol e Fátima. No fundo, fomos sempre "esta porra triste". O que agora chateia mais, o que agora incomoda, é a profusão de altifalantes, estas colunas por todo o lado aos berros, estes amplificadores ruidosos. Se pudessem todos falar um pouco mais baixinho, por favor, se pudessem, pelo menos, não impor a vossa gritaria à minha absoluta necessidade de silêncio. É que falam todos tão alto e tanto, e eu para aqui a desesperar de ouvi-los para onde quer que me volte porque onde quer que esteja lá estão também eles com as suas certezas absolutas, as suas máximas e axiomas, os seus estereótipos e frases feitas e lugares-comuns e preconceitos que querem, fazem questão, insistem em impor aos outros como se estivéssemos todos obrigados a viver a mesma vida. Não, muito agradecido, vivam a vossa e não me fodam. Se puderem falar só um bocadinho mais baixo, já vos ficarei eternamente agradecido.
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