domingo, 15 de junho de 2025

POEMA RAFEIRO

Este poema não vai entrar
foi barrado pelo porteiro
ficará do lado de fora
sentado e sozinho
a observar quem entra
adequadamente trajado

De chinelos, descalço
este poema permanecerá
na margem do rio corrente
a ver espelhadas nas águas
constelações de estrelas estáticas

Tremeluzindo também
este poema seguirá a esmo pelas ruas
metendo conversa com as trevas
cumprimentando vagabundos
afagando animais selvagens

Rafeiro entre rafeiros
este poema trauteará melodias
vindas do fundo mais fundo da voz
que sem bússola nem mapas
se voluntaria nos labirintos da noite

E clareando o dia
este poema continuará o seu trajecto
isolado, afastado
para em silêncio melhor escutar
o canto da paz esquiva
a melodia do amor traído
a harmonia do corpo que abraça a sombra
sem lhe pedir satisfações
 

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