Há uma zona de lazer em Castelo Branco que se chama Monte do Índio. Foi lá que me sentei a descansar um pouco de trabalhos à esturra, sob 40º de calor. Um homem aproximou-se. Era velho, vestia uma blusa de alças, calçava chinelos que lhe salientavam as garras dos pés em camarão e usava uns boxers largos que escancararam a tomatada quando se sentou. Queria conversar, sob os óculos escuros de velho solitário. Primeiro, o que estava eu e os meus por ali a fazer? Depois, o rol de doenças, privações, maleitas, receitas, contra-indicações, heranças da guerra no Ultramar e coisas assim. Felizmente, não cheirava mal. Também não cheirava bem. Simplesmente não cheirava. Pelo que fui ouvindo como uma espécie de confidente momentâneo. A certa altura, reparei que tinha um traço geometricamente desenhado no braço direito. Talvez reparando no que eu tinha reparado, apressou-se a esclarecer-me: é para medir a tensão. Assim, sei o lugar exacto onde devo colocar o aparelho. E nisto levantei-me, estendi-lhe a mão, desejei-lhe as melhores e regressei ao trabalho.

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