Como explicou John Cleese, o problema de um estúpido é
que, por ser estúpido, jamais reconhecerá a sua estupidez. Há um ano, uma
sondagem revelava a crescente preocupação dos portugueses com a desinformação
na internet. "Falta de literacia mediática e hábitos de leitura contribui
para permeabilidade à desinformação", dizia-se. Agora, um estudo vem
revelar o crescimento de 160% no número de casos de desinformação, em relação
ao registado nas eleições europeias de 2024: "Das 4.514 publicações identificadas
nas redes sociais entre 07 de abril e 19 de maio, o Instagram (30,0%) e o
Facebook (28,9%) agregaram a maior parte do conteúdo gerado durante este
período, seguidos pelo X (22,8%), TikTok (9,8%) e YouTube (8,5%)."
Escusado referir quem mais contribuiu para esta disseminação da desinformação
com notícias truncadas, vídeos caseiros descontextualizados, o pequeno
acontecimento quotidiano sem qualquer enquadramento, partilha de notícias
simplesmente falsas. O Chega é o partido que mais divulgou conteúdos
desinformativos nas redes sociais, sendo responsável por 81,3% dos casos. Isto
é indiferente para o eleitor do Chega, que, à semelhança dos eleitores de
outros partidos congéneres, abdicou da racionalidade e deixa-se embalar pelo
sensacionalismo das emoções. Daí o ataque destes partidos às universidades, à
ciência, à cultura, ao saber, a uma educação verdadeiramente emancipadora. O
que não se compreende, mas cá temos as nossas desconfianças, é o trabalho da
comunicação social profissional nesta matéria. André Ventura e o Chega têm
constantemente a imprensa estendida aos seus pés, mesmo com insultos sucessivos
aos jornalistas e ao jornalismo. Ninguém foi mais entrevistado neste país nos
últimos cinco anos do que o líder do Chega. Talvez essa gente que trabalha nas
redacções não seja estúpida e perceba que com tais práticas não estão senão a
contribuir para o reforço da desinformação. Aqueles que deviam informar
convertem-se, também eles, em veículos de desinformação. Talvez o entendam. Se
estão preocupados com isso é outro assunto. E se querem mudar, outro ainda bem
diferente.
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