sexta-feira, 18 de julho de 2025

DESINFORMAÇÃO

 
Como explicou John Cleese, o problema de um estúpido é que, por ser estúpido, jamais reconhecerá a sua estupidez. Há um ano, uma sondagem revelava a crescente preocupação dos portugueses com a desinformação na internet. "Falta de literacia mediática e hábitos de leitura contribui para permeabilidade à desinformação", dizia-se. Agora, um estudo vem revelar o crescimento de 160% no número de casos de desinformação, em relação ao registado nas eleições europeias de 2024: "Das 4.514 publicações identificadas nas redes sociais entre 07 de abril e 19 de maio, o Instagram (30,0%) e o Facebook (28,9%) agregaram a maior parte do conteúdo gerado durante este período, seguidos pelo X (22,8%), TikTok (9,8%) e YouTube (8,5%)." Escusado referir quem mais contribuiu para esta disseminação da desinformação com notícias truncadas, vídeos caseiros descontextualizados, o pequeno acontecimento quotidiano sem qualquer enquadramento, partilha de notícias simplesmente falsas. O Chega é o partido que mais divulgou conteúdos desinformativos nas redes sociais, sendo responsável por 81,3% dos casos. Isto é indiferente para o eleitor do Chega, que, à semelhança dos eleitores de outros partidos congéneres, abdicou da racionalidade e deixa-se embalar pelo sensacionalismo das emoções. Daí o ataque destes partidos às universidades, à ciência, à cultura, ao saber, a uma educação verdadeiramente emancipadora. O que não se compreende, mas cá temos as nossas desconfianças, é o trabalho da comunicação social profissional nesta matéria. André Ventura e o Chega têm constantemente a imprensa estendida aos seus pés, mesmo com insultos sucessivos aos jornalistas e ao jornalismo. Ninguém foi mais entrevistado neste país nos últimos cinco anos do que o líder do Chega. Talvez essa gente que trabalha nas redacções não seja estúpida e perceba que com tais práticas não estão senão a contribuir para o reforço da desinformação. Aqueles que deviam informar convertem-se, também eles, em veículos de desinformação. Talvez o entendam. Se estão preocupados com isso é outro assunto. E se querem mudar, outro ainda bem diferente.

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