Soube através da Maria João Lopes Fernandes que o Filipe
Guerra faleceu. Nunca nos conhecemos pessoalmente, mas trocámos vários emails, discutimos,
foi um estímulo frequente. A certa altura, sabendo-me desempregado, tentou
arranjar-me trabalho. Sem nos conhecermos pessoalmente. Talvez isto queira
dizer alguma coisa da pessoa que era. Ofereceu-me livros, como esse que chegou
com dedicatória: “A Velha e Outras Histórias”, de Daniil Harms. Devo-lhe a vontade
de colocar em livro um conjunto de posts sobre poesia que reuni sob o título “O
Meu Cinzeiro Azul”, publicado pela extinta Canto Escuro nos idos de 2007. Foi
ele que, comentando amiudamente o que ia escrevendo, deu aquele incentivo de
que sempre precisamos para tais empreitadas. O Filipe está na “Primeira
Antologia de Micro-Ficção Portuguesa” seleccionada e organizada pelo saudoso
amigo Rui Costa e pelo André Sebastião, posteriormente editada em Marrocos com
tradução de Said Benabdelouahed. Aqui fica o primeiro dos textos do Filipe,
autor do weblog O Vermelho e o Negro:
Eu morria.
Morrer é incómodo, até desagradável. Gravam-nos o nome numa zona intermédia
(entre a Praia das Maçãs e o Cassiopeia Bar), em bom destaque, aureolado de
luzinhas, mas quem o lê? Acho que só o morto.
Noutra noite
ressuscitava. Não é agradável. Regressamos, abrimos os braços, tomamos o
pequeno-almoço na pastelaria, queremos falar mas a voz não sai da garganta,
como nos sonhos. Passamos despercebidos.

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