segunda-feira, 7 de julho de 2025

FILIPE GUERRA (1948-2025)

 


 
Soube através da Maria João Lopes Fernandes que o Filipe Guerra faleceu. Nunca nos conhecemos pessoalmente, mas trocámos vários emails, discutimos, foi um estímulo frequente. A certa altura, sabendo-me desempregado, tentou arranjar-me trabalho. Sem nos conhecermos pessoalmente. Talvez isto queira dizer alguma coisa da pessoa que era. Ofereceu-me livros, como esse que chegou com dedicatória: “A Velha e Outras Histórias”, de Daniil Harms. Devo-lhe a vontade de colocar em livro um conjunto de posts sobre poesia que reuni sob o título “O Meu Cinzeiro Azul”, publicado pela extinta Canto Escuro nos idos de 2007. Foi ele que, comentando amiudamente o que ia escrevendo, deu aquele incentivo de que sempre precisamos para tais empreitadas. O Filipe está na “Primeira Antologia de Micro-Ficção Portuguesa” seleccionada e organizada pelo saudoso amigo Rui Costa e pelo André Sebastião, posteriormente editada em Marrocos com tradução de Said Benabdelouahed. Aqui fica o primeiro dos textos do Filipe, autor do weblog O Vermelho e o Negro:
 
   Eu morria. Morrer é incómodo, até desagradável. Gravam-nos o nome numa zona intermédia (entre a Praia das Maçãs e o Cassiopeia Bar), em bom destaque, aureolado de luzinhas, mas quem o lê? Acho que só o morto.
   Noutra noite ressuscitava. Não é agradável. Regressamos, abrimos os braços, tomamos o pequeno-almoço na pastelaria, queremos falar mas a voz não sai da garganta, como nos sonhos. Passamos despercebidos.

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