sábado, 2 de agosto de 2025

BARCO

 


Há pessoas que são como campos ao abandono
têm dentro bancadas de multidões vazias
pelados aqui e acolá pisados por tufos de erva
pessoas secas
e ausentes como bancos de suplentes
a olhar para as moscas
gente com símbolos pintados na testa
símbolos gastos e sem significado
num latim decorativo
que nos faz crer na inteligência das pedras
 
Certamente morrerão felizes
com os pulmões cheios de esquemas
e escamas nos olhos
a nadarem no pó como carapaus secos
 
Há décadas nisto de dizer que o mundo não é bem
um deve e haver de contratações
para benefício da reforma
se envelhecerem tremerão como varas
de balizas sem rede
à espera do apito final do árbitro
 
É bem provável que chegadas ao balneário
ainda reclamem solitariamente
dos empates da vida
sob um duche de água derrotada

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