quinta-feira, 24 de julho de 2025

MEDELIM

 


Dividi mesa com um jovem francês num restaurante em Medelim. Disse-me chamar-se Sylvan, era professor de engenharia em Paris e há anos que fazia o seu retiro espiritual no Boom Festival. Usava rastas falsas, como tudo nesses retiros sazonais em que alguém experimenta, por dias, ser o que talvez gostasse de haver sido e a vida não permitiu. Nada contra abraçar árvores, dançar descalço na poeira, ser hippie chic ocasionalmente, cada qual escolhe os exorcismos que bem entende e o Sylvan nem aprecia ser mau rapaz, só queria saber a diferença entre pernil de porco e bifes de peru. Expliquei como pude, num português afrancesado, num inglês aportuguesado, e lá nos entendemos. Gabou muito o festival durante a refeição, que o espaço era incrível, oferecia imensas actividades de lazer, tinha óptimos DJs. Quais?, perguntei. Ace Ventura, sugeriu-me. Ah, sei, o israelita, comentei. Não reagiu. Ouvi dizer que esse festival promotor da paz e do amor é patrocinado por fundos israelitas, do país que tem vindo a perpetrar um genocídio em Gaza condenado à fome milhares de crianças. Fala-se disso no festival?, questionei. Acenou negativamente de cabeça baixa, meteu mais uma garfada de pernil na boca e fechou-se em copas até ao termo da refeição. Há paredes que não merecem ser caiadas.

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