O meu silêncio não funciona
ronrona como um gato
respira fundo
vibra
anda pelos telhados
em miados vigorosos
não se poupa a esforços
tem ego inflamado
Silente como um zumbido
é a voz do meu silêncio
se for à minha maneira
pode actuar
desde que como eu queira
pode quebrar-se
conquanto se mantenha calado
tem vontade própria
está avariado
E numa estática constante
de imagens ruidosas
rouba-me o sono
leva-me à praia
leva-me para bem longe de mim
num peito em floração
de ruídos
indesejados
por mim silenciado
faz barulho pela calada
reúne-se com o futuro
diz que sim para não
manipula
adultera
exerce pressão
entre sístoles e diástoles
de elipses
arritmias
rimas
espartilhos
gargalho com estrépito
porque me foge e se liberta
evasivo
intratável
desdenhoso do presente
o meu silêncio avariado
o meu inadmissível silêncio
Dou-lhe um ramo de túlipas
devolve-me espirros
assobia para dentro
não tem fora
todo ele é na primeira pessoa
toma o comprimido
dorme mal
não liga
nem desliga
é traiçoeiro e desleal
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