domingo, 20 de julho de 2025

UM POEMA DE MIRIAM REYES

 


Uma vez
usando os meus dotes de vidente
profetizei que amar-te-ia até ao fastio.

Se nessa altura
tivesses tapado todas as aberturas do meu corpo
obstruindo-me de ti
teria morrido alegremente asfixiada.

Mas agora
qua as tuas palavras me cansam corporalmente
e o teu emaranhado de frustrações insuperáveis
e a tua loucura voluntária
me causam repulsa
recuso continuar a representar o papel de vítima.
Renuncio à Academia.

Não permitirei que me tortures mais
com as tuas fantasias cruéis.

Odeio a agonia
o sofrimento prepotente dos mártires.

O meu corpo não voltará a ser tributo
a um deus mongolóide.

Miriam Reyes, in "Extraña manera de estar viva. Poesía reunida (2001-2021)", Mixtura Editorial, 2022, p. 53. Versão de HMBF.

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