Vi o índio chegar de tractor. Estacionado nas traseiras da igreja, limpava os bancos de jardim salpicados de caca do passaredo. Meti conversa. Sabe de quem é o Dacia estacionado ao pé da junta? Demorou a responder, sem largar o cigarro no canto da boca. Dacia? Sim. De que cor? Vermelho. E a gama? Sandero. Não sei. Achegado lentamente ao problema, o índio da Coutada sacou do telemóvel como que de uma flecha e disparou na direcção do Presidente da Junta: isto aqui já há sarilho, os homens querem trabalhar e não os deixam. Do veículo ninguém sabia, seria do emigrante de além, do brasileiro de aquém, de quem seria? Isto aqui agora é tudo brasileiros, reclamava o índio da Coutada enquanto afinava a pontaria contra o senhor presidente. Este, alterado, sugeria que assim e assado. Aquele, na sua impecável calmaria indígena, prontificava-se a prontificar. E por ali quedámos breves minutos num para cá e para lá de o que é que vamos fazer. O teatro estava montado, a peça era aquela. E pronto. Um carro mal estacionado impediu que se fizesse Peter Weiss. O povo de Coutada não levantou ondas que se notassem. Excepto o índio, que para dentro e para fora prosseguiu no redemoinho de queixas: o homem tem razão, era isolar isto tudo não é com um, é com seis dias de antecedência. Ele é que sabia.

Sem comentários:
Enviar um comentário