Num café à entrada de Verdelhos, junto à ponte desta pequena mas bela povoação atravessada por um canal onde no Verão os emigrantes, de visita à terra, se refrescam do calor intenso, fomos servidos por um casal ali aterrado vindos de Sintra. Ela, chamemos-lhe a Rapariga de Verdelhos, era magra e frágil, tinha olheiras cavadas que faziam lembrar noites bem passadas e falava de um modo simpático, aparentemente débil, com sofisticação incomum naquelas bandas. Gostava de teatro, mas não sabia se poderia assistir ao espectáculo por causa do trabalho. O cenário era belo, mas o público grosseiro falava alto, aproximou-.se de cerveja na mão, alguns claramente embriagados, outros e outras replicando num francês com sotaque das beiras, tudo algo abrutalhado e a destempo. Faltou ali a sensibilidade da Rapariga de Verdelhos, que, na verdade, seria de Sintra, e da qual me despedi com um olhar furtivo ao vê-la sentada junto ao rio a contemplar as águas que seguiam seu rumo. Adivinho a tragédia por detrás daqueles olhos, mas evitarei especulações. Não sei porquê nem de onde vem esta tendência para me apaixonar pela tristeza. Se a tristeza dela tivesse assistido à representação, por certo tudo teria sido muito mais alegre.

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