Filho de comerciante, habituei-me desde cedo a
compreender quanto a generalidade das pessoas gosta de ser aldrabada. 11 anos
ao balcão de uma Bertrand confirmaram a percepção que já tinha. Sempre que
falava honestamente sobre um livro, era quase certo que ele ficasse ma prateleira.
Argumentos de venda são patranhas, mentiras tão eficazes quanto a mentira útil
de que Platão falava n' A República. Portanto, para vender livros havia que
aldrabar. O cliente comprava, partia feliz com as suas ilusões e a taxa de conversão
agradecia à tanga. Nas relações também se fala de bater o coro, as tácticas de
sedução besuntadas a banha da cobra resultam sempre. Sabeis como é, por certo.
Não vos admireis, portanto, que os vídeos de André Ventura a fingir que apaga
fogos em câmara lenta, com as mãos enterradas na cinza e os braços a carregar
garrafas de água para oferecer aos bombeiros, venham a produzir o efeito
desejado junto de cabeças desmioladas como as do nosso povinho tão atreito a
tais falsidades. O povo gosta de ser enganado, o povo foge da verdade como o
diabo da cruz. Digam a verdade às pessoas e terão de oferta descaso,
ofereçam-lhes mentiras e obterão atenção. Com tais vídeos André Ventura já teve
a atenção que pretendia, assim como choraram o refluxo gastroesofágico do
Grande Líder muitas pessoas irão verter lágrimas de comoção com as pífias
encenações do homem que vai limpar Portugal.
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