segunda-feira, 24 de novembro de 2025

AS WEÏRD SISTERS

A feitiçaria de Lady Macbeth parece ser puramente verbal; com as Weïrd Sisters a história é outra. A caça às "bruxas", estudada na obra "A Religião e o Declínio da Magia" de Keith Thomas, deixa claríssimo que a mais grosseira misoginia desempenhou um papel importante nos julgamentos. Mas o assunto era controverso à época: o estudo isabelino mais conhecido foi "The Discovery of Witchcraft" (1584), de Scott, que atacava consistentemente as crenças na bruxaria e enfatizava as vinganças pessoais de que dependiam as provas. O rei James, então ainda na Escócia, respondeu por escrito com "Demonologia" (1597); atacou severamente Scott e relacionou as crenças tradicionais com a sua própria experiência. Um panfleto impresso em 1591, "Notícias da Escócia", regista o julgamento de Agnes Sampson e outras, aludindo à "confissão" de que tinha tentado envenenar o rei, além de ouvir os seus pensamentos mais íntimos. Ao chegar a Londres, em 1603, James ordenou a reedição de “Demonologia” e induziu o parlamento a reeditar e a reforçar a lei contra a feitiçaria. Ele próprio assistiu ao julgamento de Agnes Sampson em Berwick e deu continuidade à prática de comparecer incógnito a julgamentos em Inglaterra; no entanto, parece que o seu interesse se voltou para a exposição de acusações falsas e, consequentemente, para a anulação de condenações; ainda assim, embora a sua confiança tenha diminuído, a Lei de 1603 não foi revogada. Não há qualquer evidência de que Shakespeare tenha utilizado alguma destas obras, quer em “Macbeth”, quer nas suas primeiras peças sobre o reinado de Henrique VI, onde tanto Joana d’Arc como a Duquesa de Gloucester são mostradas a invocar poderes das trevas. (...) Já abordei a relação entre bruxarias rurais e as deusas do destino nas Weïrd Sisters. Tudo o que Shakespeare utilizou das primeiras era do conhecimento comum, incluindo os familiares e as criaturas que vão para o caldeirão; remontam a fontes clássicas e medievais, a Ovídio e à “Medeia” de Séneca; mas, embora as poções sejam semelhantes, não são suficientemente parecidas para sugerir plágio. Para as Weïrd Sisters não foi sugerida qualquer fonte, além das pistas deixadas por Holinshed; sem dúvida, elas foram construídas com base em recordações da mitologia clássica, e especialmente nas ambiguidades oraculares das sibilas de Delfos e outras. O resultado é uma amálgama que parece ser totalmente original, como Anthony Harris observou em “Night's Black Agents” (1980): «tal como no “Sonho de uma Noite de Verão” Shakespeare revolucionou a visão secular das fadas... também nas Weïrd Sisters produziu uma criação única».

Nicholas Brooke, in The Tragedy of Macbeth, Oxford University Press, 1990. Versão de HMBF.

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