Imagina que te vias ao espelho
e em vez da beleza de narciso
ou da ausência de reflexo do vampiro
encontravas um corpo frágil e efémero
como qualquer corpo, mero composto
de carne e alma, com raízes no que foi
e previsões do que já não é. Por quem
espera o espelho? Quem espera o
espelho reflectir no desamparo
da superfície vitrificada? Talvez
ao te encontrares assim desprotegido
percebas por fim o sentido da mesa vazia
que nos aguarda quando, consumidas,
as velas emitirem apenas escuridão.
E então tudo será mais claro, nós
sozinhos num corpo que nos foge.
Nota: instantâneo pré-ensaio, com a Inês Barros a pensar,
por certo, numa Helen que poderão descobrir a partir do próximo dia 20 na Sala
Estúdio do Teatro da Rainha. "Órfãos", de Dennis Kelly, foi mais um
desafio do Fernando num laboratório que se tornou escola para se transformar em
casa. Sempre a aprender, até o corpo me fugir. Espero pela vossa visita. Saúde.

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