Nome maior da literatura universal, Johann Wolfgang Goethe nasceu em Franco-forte-sobre-o-Meno em 1749 e faleceu em Weimar em 1832. Inicialmente ligado ao movimento Sturm und Drang (Tempestade e Ímpeto), Goethe acabaria por se tornar na principal inspiração do romantismo alemão. Do Sturm podemos dizer que se revela na obra do génio alemão a exaltação permanente das forças naturais, nas quais devemos incluir o Amor, e a superação do iluminismo através da afirmação veemente de um politeísmo estético onde a dimensão simbólica assume real destaque. Além destes aspectos há ainda outros comummente enunciados: o elogio da liberdade e do desejo, a deificação do ímpeto, isto é, das paixões mais impetuosas mesmo/sobretudo quando estas implicam a infracção. O indivíduo, mais do que exemplar da criação, torna-se representação viva do génio criador. Prelúdio do romantismo, o Sturm und Drang exprimiu um “novo classicismo” em ebulição onde mais do que repetir o já feito se impunha reassumir a ideia de que tudo está por fazer. «O Antigo era o Novo quando os felizes viviam, / Vive tu em felicidade e revive em ti os tempos remotos» (p. 51). – escreve Goethe na XIV das elegias que compõem esta Erotica Romana, ressuscitada pela excelsa Cavalo de Ferro numa tradução de Manuel Malzbender. Porque se trata de um dos mais belos livros deste exangue 2005, impõe-se que, antes de continuarmos, demos conta do nível excelente desta edição, completada com preciosas notas explicativas, reacções à obra (antes da publicação) e uma crítica pela pena de August Wilhelm Schlegel. Pouco mais do que impossível de definir, o romantismo de Goethe distingue-se principalmente por um pathos conflituoso e anelado. Isto é, as emoções, na poesia de Goethe, são o começo da rejeição do sentimentalismo e o princípio da recuperação da espontaneidade dos antigos. Poesia atormentada, mais pela ânsia e pela insatisfação do génio que pela sentimentalidade patológica de outros românticos, é na sua força do desejo que melhor vislumbramos aquilo que Schiller classificou como «uma verdadeira aparência de espíritos do bom génio poético». Erotica Romana, por reunir um ciclo de poemas eróticos de Goethe, escritos a partir da sua estada em Itália (1786-1788), merece por isso especial atenção. São XXII elegias introduzidas e encerradas com dois poemas ao deus Príapo, filho de Afrodite e de Diónisos, «criança feia, com uns órgãos genitais enormes». Atentemo-nos nesta nota de Robert Graves: «Príapo teve a sua origem a partir das impúdicas estátuas fálicas que presidiam às orgias dionisíacas». Também as elegias de Goethe são orgiásticas, revelando o lado mais lascivo da biografia do poeta de Werther e de Fausto. Múltiplas são as passagens onde o escândalo espreita. Terminemos com esta: «Banquetes e sociedade, passeios, jogos, ópera e bailes / Só roubam o tempo mais conveniente ao Amor. / Repugnam-me esplendor e cerimónias, pois afinal / Não se levantará a saia de brocado tal como a de lã? / E se ela quiser acomodar o amado entre os seus seios, / Não desejará ele libertá-la logo de todos os adornos? / Não deverão jóias e rendas, estofos e ganchos / Cair todos antes de ele poder sentir a bela? / Mais perto a teremos! E já a tua sainha de lã desliza / Em pregas para o chão quando o amigo a desprende. / Apressado leva a rapariga, em leve linho envolvida, / Como o faria uma ama, para o leito gracejando. / Sem cortinados de seda e sem colchões bordados / Acomodam-se os dois no quarto vazio. / Toma então Júpiter mais da sua Juno / E delicie-se o mortal, se mais o conseguir. / Deleitam-nos os prazeres do verdadeiro Amor nu / E o doce ranger da cama que baloiça» (p. 15-17).
Sem comentários:
Enviar um comentário