Li alguma bibliografia sobre Ian Curtis e os Joy Division. Destaco An Ideal For Living – An History Of Joy Division, de Mark Johnson, e algumas dezenas de folhetos informativos sobre benzodiazepinas. O título do livro de Mark Johnson deixou-me sempre muito intrigado, pois nunca consegui entender que ideal de vida poderá transmitir um tipo que se enforcou aos 23 anos de idade. Ainda assim é um bom livro, repleto de excelentes fotografias, tais como as de Anton Corbijn – o mesmo que resolveu agora homenagear a banda de Love Will Tear Us Apart. Devo esclarecer que a minha relação com a obra dos Joy Division pautou-se sempre por um certo distanciamento. Quando comecei a ouvi-los andava fascinado pela “música” dos The Sex Pistols, entre outros artífices do movimento punk. Estou convencido que a primeira escola política de um indivíduo consiste na opção por um destes dois caminhos (não necessariamente alternativos): ou o dos artistas bêbados ou o dos artistas depressivos. Como em tudo na vida, foi sempre minha intenção procurar conciliar os opostos. Assim como assim, sempre a bebedeira disfarçava a depressão. Foram estes intentos megalómanos que me alimentaram o interesse pelos tais folhetos sobre benzodiazepinas. Uma mistura explosiva, como deverão imaginar. Ora emborcava um litro de cerveja Sagres a ouvir os The Sex Pistols, ora metia algumas pílulas ao bucho escutando os Joy Division. Quando, aos 21 anos, descobri que Sid Vicious, dos The Sex Pistols, tinha morrido com 22, convenci-me de que deveria interessar-me mais pelos Joy Division. Ian Curtis suicidou-se aos 23. Um ano é um ano, e na cabeça de um tipo medíocre e cobardolas, como eu, o facto de ser um ano faz toda a diferença. É verdade que, posteriormente, vim a apaixonar-me pelos The Doors. Juro, no entanto, que esta traição nada teve que ver com o facto de Jim Morrison ter morrido apenas aos 27 anos, já velho e a cair de podre para as médias em causa. Para mim, à época, morrer aos 23 ou aos 27 não me era indiferente, mas a verdade é que aos 27 comecei a pensar de outra forma, é uma idade mais madura que permite-nos cogitar estas coisas dos ídolos musicais para lá do fascínio que os seus comportamentos autodestrutivos exercem sobre nós. Anton Corbijn, que, julgo, terá mais de 27 anos, ainda não atingiu esse estado de maturidade. Por um lado, vejo isto como algo positivo. Sinto-me até um pouco precoce. É que o filme Control, de Corbijn, é todo um tratado sobre o fascínio pela personalidade de Curtis, um jovem com o coração dividido ou, melhor dizendo, com a cabeça algo ameaçada pelas desordens do coração. Ou será o contrário? Como filme, Control não me descontrolou por aí além. Julgo que se tivesse ficado em casa a ver um bom álbum de fotografias de Corbijn, ao som dos Joy Division, não haveria grande diferença. Na tela, as fotografias criam a ilusão do movimento, alimentando-nos a sensação de estarmos mais perto do que terá sido a realidade daquelas personagens com as quais há muito nos relacionamos. A fraqueza destes filmes de cariz biográfico repete-se: raramente nos surpreendem, porque o que nos mostram é quase sempre o que já sabíamos, mesmo que o mostrem de uma forma mais ou menos bem construída, mais ou menos bela. Não posso, no entanto, dizer que não tenha sido agradável ver e ouvir um filme sobre os Joy Division. Agradável talvez não seja o termo mais apropriado. Mas é sincero.
A ler: He`s lost control.
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