quinta-feira, 27 de novembro de 2008

THE VANISHING OF MARIA SCHNEIDER


I can’t stop cause it never began

Chegou a hora e ninguém estava lá para a receber. Rebentaram então dois vulcões que pareciam bombas atómicas. As pessoas que perceberam, esconderam-se. As outras agacharam-se aos pés do espectáculo e assistiram a tudo muito espantadas. A hora perguntou por que ninguém a esperava. Ninguém lhe respondeu.

See I’m stuck in this ungodly game
And I only have myself to blame


Deus mantinha-se sereno. De vez em quando esfregava os olhos e despertava alguns demónios nos sonhos da hora. Um homem estranhamente apaixonado resolveu então perguntar à hora por que tinha ela chegado, ao que a hora, muito informalmente, respondeu passando por cima do assunto. Ao passar por cima do assunto, este ficou espalmado.

I would rather drown with you
Than watch the surf with someone else


A hora era como um cilindro. Deixou o assunto espalmado sobre a terra, transformado numa espécie de tapete onde as pessoas arrastavam as solas dos sapatos. Havia um certo deslumbramento no rosto da hora, um gozo perverso que advinha de se sentir contemplada em silêncio. Mas o homem estranhamente apaixonado era feito de ousadia.

Rest your eyes, got no tears for a lovesong

Essa tua ousadia é material resistente, disse-lhe a hora com um sorriso inclinado. Armado da sua ousadia, o homem estranhamente apaixonado acusou a hora de um atraso de cinco minutos. O atraso provava que não era aquela a sua hora, portanto, que regressasse para de onde tinha vindo. Achando-se ultrajada, a hora cuspiu jactos de lava sobre o homem estranhamente apaixonado.

The reverb of time
Is our vantage point


Não tenho lágrimas para a tua amargura, não tenho lágrimas para o teu ódio. Com a minha armadura ousada, resistirei aos 1250 °C do teu cuspo. Tenho a meu favor cronómetros infalíveis, sei que te atrasaste cinco minutos e que, por isso, não é esta a tua hora. Não vale a pena humilhares-te com os demónios que Deus despertou nos teus sonhos.

I won't throw myself from the pier
I'm gonna go home and shut up for a year


Ao escutar estas palavras, Deus ficou tão surpreendido que elegeu o homem estranhamente apaixonado para profeta das suas exclamações. A hora regressou para de onde tinha vindo e o homem estranhamente apaixonado recolheu-se durante um ano em profunda reflexão. Passado esse ano, resolveu disseminar pelo mundo os olhos profundos de Deus.

We all just pretend
That we will not succumb
To the ultimate trend

O que o homem estranhamente apaixonado desconhecia era que os olhos profundos de Deus já não eram de Deus, esses estavam bastante inchados de tanto serem esfregados. Aqueles olhos profundos agora disseminados pelo mundo eram os olhos do homem estranhamente apaixonado com a armadura da ousadia carunchando de imprudência.

Scanning purple sunrise
Before you crawl to bed

Muitas auroras sucederam a tantos mais crepúsculos. As pessoas deixaram de se espantar com as coisas, procurando apenas descansar sobre uma certa nostalgia do espanto. A palavra disseminada era agora um rosto pálido, uma cama por fazer, a imitação de um espectro a animar crianças em centros comerciais. Ainda restavam alguns românticos. Mas as armaduras tinham-se deteriorado irremediavelmente.

Inside your fingers
My heart's the trigger

Escreviam-se canções sobre o assunto, muitos livros para pensar positivo, paródias deprimentes contra a depressão, proliferavam massagistas, vendedores de chás e havia uma grande variedade de iogurtes nas prateleiras dos hipermercados. De Deus já só ouviam falar os pescadores que ainda resistiam à invasão das terras sobre os oceanos. Amontoavam-se gigantescas vaidades dentro dos corações ternurentos. Os corações eram carapaças, pistolas avariadas, etc.

If you don't come from the states
You will always be late to be in popular culture

Fechada sobre si própria, a hora continuava a aguardar o seu momento. O mundo, com os seus capitães, não era indiferente ao terrorismo. O terrorismo não era indiferente às orações. Mas entre ambos notava-se uma ligação como aquela que existe entre a farinha e a água e da qual resulta o pão que todos levamos à mesa. Pela tardinha, à minha frente, alguém vai meter a cabeça entre as mãos e lamentar a maldição. Eu não sei o que farei, do futuro não sei nada. Mas o mais provável é vir a barrar o pão com manteiga e sentar-me à espera da hora.

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