domingo, 26 de julho de 2009

GRAN TORINO



A primeira sequência é determinante. Durante o funeral da mulher, Walt Kowalski olha para a sua família e não se reconhece. O comportamento e a imagem despropositados da neta contrastam com a pose conservadora de Walt, reforçada por um esgar de desprezo assim que o padre começa a discursar sobre a morte. O desenvolvimento de Gran Torino é marcado pela mudança de relacionamento entre Kowalski e a vizinhança Hmong. Da distância à aproximação vai o encontro com a diferença, a transposição das barreiras que obstaculizam um difícil processo de integração. E esse processo culmina na descoberta de uma nova família que importa proteger de ameaças externas. O americanismo de Eastwood aceita-se por ser crítico, por conseguir mostrar-nos num pequeno bairro as contradições sociais disseminadas por toda a América. No final, para este veterano de guerra, envelhecer só pode ter um significado: oferecer o peito às balas. O sacrifício pode ser interpretado em paralelo com a via-sacra cristã, mas também pode ser lido à luz de um pragmatismo moral que caracteriza os grandes guerreiros. A diferença é que nos segundos a fé na expiação foi substituída por uma vontade de vingança, no sentido mais puro do termo que é o de fazer justiça. E essa desforra prolonga-se para lá da morte, quando o testamento é lido perante a estupefacção da família. Assim interligadas, as dimensões política e existencial de um homem oferecem-nos uma lição sobre a velhice: nenhuma experiência passada pode justificar tanto um conselho como o exemplo prático da sabedoria adquirida com o passar dos anos. O exemplo prático de Walt Kowalski chegará a todos, da família ao padre, da vizinhança Hmong ao gang que representa as ameaças exteriores, como uma sábia combinação de sageza e coragem.

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