segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O NOME DOS CORPOS


Perguntam-nos a que praia costumamos ir. Não sabemos responder. Arrifana, Vale dos Homens, Odeceixe, Amoreira, Monte Clérigo, Zavial, Carriagem. Ainda não repetimos uma beira-mar desde que aportámos na mansão da Esteveira. Gostava de saber a origem destes nomes, particularmente de Monte Clérigo e de Vale dos Homens. Também há uma terriola aqui perto que se chama Azia. Como se chamarão os seus habitantes? Lá para as nossas bandas, despertam-me a curiosidade lugarejos tais como o Imaginário, Poesias, A-dos-Negros, A-dos-Francos, Guisado, etc.. As revelações do Bill Bryson, que leio para desenfadar da vida no Sanatório Internacional Berghof, estimulam-me estes interesses. Conta o autor de Made in America que quando se iniciou o processo de atribuição de nomes nos states, surgiram vilas com designações tão enigmáticas como Delirium Tremens, Dead Mule, Dead Bastard Peak, Two Tits ou Shit-House Mountain. Mas a curiosa imaginação dos colonizadores primogénitos não se ficou por aqui. Já na “era dourada” da escravatura, David Hackett Fischer relata como um visitante de Virgínia «ficou em choque ao ver senhoras a comprarem escravos negros do sexo masculino, examinando cuidadosamente os seus órgãos genitais». Por estas bandas, não se compram escravos negros mas examinam-se discretamente alguns órgãos. A nudez dos corpos purifica as almas, atrai algumas atenções cujo desconforto é compensado por uma sensação de liberdade que nos envia para a infância, quando nenhum preconceito moral, nenhum puritanismo delimitava os gestos. É a mesma liberdade que cai sobre a terra quando a noite desnuda o céu e nos brinda com um transparente festival de constelações. O céu estrelado de ontem à noite não deixava antever o manto de nuvens que hoje se interpôs entre os nossos corpos descascados e os raios solares. Como a temperatura estava óptima, resistimos ao céu cinzento e estendemos as toalhas nas rochas até a praia ficar à nossa mercê. Quando chegámos, viam-se apenas três pescadores, meia dúzia de famílias, dois casais de estrangeiros, uma senhora idosa a apanhar banhos de céu nublado perto da nascente de água doce onde, de vez em quando, refrescava os pés. Enquanto a preia-mar não atingiu o zénite, a Beatriz improvisou mergulhos originais em poças minúsculas e a Matilde entreteve-se numa espécie de piscinas formadas por formações rochosas em círculo que caracterizam o local. As escarpas íngremes protegiam-nos do vento, entretido a pentear os cactos e outras plantas disseminadas por toda a costa. Dentro em breve, ficaríamos apenas na companhia das gaivotas cujo cântico arrebatado me entusiasma se os espécimes fizerem o obséquio de bater as asas à distância. Não gosto de aves, tenho-lhes pavor, invejo-lhes o voo tanto quanto lhes abomino as penas. Só as suporto já depenadas, como o frango que deixámos a descongelar para começar a ser assado assim eu termine este breve apontamento. Ou seja, agora mesmo.

2 comentários:

jp disse...

Não se compram mas já se compraram e até lhes davam cantáridas para fazerem sexo até à exaustão ou morte mesmo.
Pelo menos foi a estória que um velho e bom professor de história me contou faz anos.

Anónimo disse...

Desce até à praia do Barril e sobe pela Entrada das Barcas. Esta provocação não ficará impune :)
fallorca