O caso Pavese é um enigma fascinante. Tina Pizzardo era uma mulher da lógica. Este pormenor, aliado à sua condição de comunista na clandestinidade, leva-nos a supor que se regesse segundo raciocínios pragmáticos. A primeira impressão é a de que terá usado Pavese, ter-se-á servido dele para chegar a Altiero Spinelli. Nada nos garante que ela alguma vez tenha amado ou sentido qualquer resquício de paixão pelo poeta. Pavese ajudou-a por amor. Foi um intermediário voluntário. Ela serviu-se do amor de Pavese por amor a Spinelli. Sendo assim, a segunda impressão é a de que Cesare Pavese terá sido ingénuo, diria mesmo infantil, ao supor que ela esperaria por ele após 3 anos de reclusão. O que terá levado Pavese a pensar que Tina estaria à sua espera? Em que se fundamentava a esperança do poeta? É verdade que Tina acabaria por casar com um outro homem, o polaco Henek Rieser. Provavelmente foi este pormenor que arrasou Pavese. Tivesse ela casado com Spinelli, Pavese teria sido, certamente, um outro poeta. Igualmente só, mas sem o sentimento de ter sido traído. Na imagem: Constance Dowling e Cesar Pavese.
1 comentário:
O caso (e os seus posts) são efectivamente fascinantes. Mas não acha que um homem (ou, já agora, uma mulher) é perfeitamente capaz de viver uma realidade que só existe na cabeça dele? Quase toda a gente vive no receio de não ser apreciado mas procura agir como se o fosse. Talvez o amor não seja assim tão diferente. Apenas mais intenso e direccionado. Ainda por cima, falamos de um poeta.
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