Simpatizamos com Princesas Dianas & Anti-heróis (Junho de 2009), uma edição do autor Luís Pedroso a pedir 250 leitores. Aqueles que se aventurarem, depararão com dois conjuntos de poemas ─ O Caso BPN e O Caso Freeport ─ onde a memória tropeça na imaginação, onde a lucidez se afirma por uma saudável cuspidela na seriedade e no auto-convencimento. Em cada uma das partes, 11 poemas travestidos de um humorismo ligeiro sem grande pachorra para melancolias plásticas e reflexões de pacotilha. Por vezes, as estórias têm graça; outras vezes, nem por isso. Há até momentos em que a língua sai sofrível, o ritmo não respira, o remate leva o esférico à trave. Mas a seriedade destes versos reside precisamente em não pretenderem levar-se demasiado a sério, folgam-nos de uma «certa importanticidade sumamente ridícula» (Alexandre O’Neill):
ULISSES 2: A FÚRIA DO HERÓI
Uma multidão enraivecida mas muito cordial
Insistia em que eu auferisse por conta deles
e com todos os melhores cumprimentos
uma épica carga de porrada
Hesitei, porque me apetecia declinar essa atenção
Mas estava embevecido por toda aquela deferência
E uma oferta destas não nos cai no guarda-pó
todos os dias, uma turba cega por um ódio quase
inquisimal
Mas afinal qual o motivo de tão obstinada ira?, balbuciei
a um senhor engomado cuja cabeça meneava
ao balanço do relógio de bolso que até era bem bonito
E cujo bigode sidonista me remetia para o tráfico
de pólvora
Não podes ter o melhor de dois mundos, fazer a síntese
oportunista da Maria e da Manuela
O teu menor problema de hoje em diante
será o fato de alcatrão e penas
Ao que parece
fui apanhado no Largo do Pelourinho
com o Jornal de Letras numa mão
e A Bola na outra
Luís Pedroso, in Princesas Dianas & Anti-Heróis, Edição do Autor, Junho de 2009, pp.32-33.
ULISSES 2: A FÚRIA DO HERÓI
Uma multidão enraivecida mas muito cordial
Insistia em que eu auferisse por conta deles
e com todos os melhores cumprimentos
uma épica carga de porrada
Hesitei, porque me apetecia declinar essa atenção
Mas estava embevecido por toda aquela deferência
E uma oferta destas não nos cai no guarda-pó
todos os dias, uma turba cega por um ódio quase
inquisimal
Mas afinal qual o motivo de tão obstinada ira?, balbuciei
a um senhor engomado cuja cabeça meneava
ao balanço do relógio de bolso que até era bem bonito
E cujo bigode sidonista me remetia para o tráfico
de pólvora
Não podes ter o melhor de dois mundos, fazer a síntese
oportunista da Maria e da Manuela
O teu menor problema de hoje em diante
será o fato de alcatrão e penas
Ao que parece
fui apanhado no Largo do Pelourinho
com o Jornal de Letras numa mão
e A Bola na outra
Luís Pedroso, in Princesas Dianas & Anti-Heróis, Edição do Autor, Junho de 2009, pp.32-33.
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