terça-feira, 27 de outubro de 2009

ESTIGMAS


O facto de não acreditar no destino não me impede de acreditar nos estigmas. Há pessoas que parecem nascer estigmatizadas por uma dor que as acompanhará até à morte. Sylvia Plath parece ter sido uma dessas pessoas, apesar das fotografias a mostrarem, geralmente, com um fresco sorriso no rosto. Mas o olhar não engana. Olhar para aqueles olhos, mesmo quando o rosto parece sorrir, é como olhar para o mais vulnerável dos corpos. Sylvia nasceu a 27 de Outubro de 1932, em Boston, filha de Otto Plath, professor de Biologia especializado em insectos, e de Aurelia Plath. Apesar de ter perdido o pai com apenas 8 anos, Sylvia sempre se mostrou muito marcada pela sua alegada personalidade autoritária. A mãe aparenta ter sido uma mulher dedicada, que a apoiou, por vezes em condições de extrema dificuldade. No entanto, Sylvia Plath dedica-lhe algumas manifestações de ódio no seu diário. Certo é que foi uma aluna brilhante, ganhando concursos, uma bolsa, publicando trabalhos literários, tais como o conto Sunday at the Minton’s, publicado em 1952 na revista Mademoiselle. No ano seguinte, a poeta sofre um esgotamento e tenta suicidar-se. Sylvia mostrava-se angustiada com o papel limitado que as mulheres assumiam na sociedade. Vale a pena lembrar parte do prefácio que Ana Gabriela Macedo dedicou a Três Mulheres (Relógio d’Água, 2004): «Em termos da poética de Plath, é uma constante esta tensão entre o mundo privado e o social, a energia e a paralisia, a palavra e o vazio. De facto, vários dos seus poemas mais angustiantes se iniciam no intimismo do ambiente doméstico e pacífico da cozinha, da casa ou do quarto das crianças (…), para depois explodirem violentamente para o mundo exterior». Os anos de 1954 e 1955 serão marcados pelo regresso ao Smith College, pela colaboração com várias revistas, uma tese sobre Dostoievski, publicações universitárias e uma bolsa Fulbright que a levará até ao Newnham College, Cambridge (Inglaterra). Em 1956, conhece Ted Hughes numa festa de estudantes e começa a mais trágica das suas relações. Casam nesse mesmo ano, viajam por Paris e Espanha, partindo posteriormente para os EUA. A relação entre Plath e Hughes mostrou-se conflituosa desde o início, sobretudo devido à desconfiança (fundamentada) que Plath mantinha relativamente à fidelidade de Hughes. O Prémio Bess Hokin atribuído pela revista Poetry encoraja Plath a abandonar o ensino e a dedicar-se à literatura. Estuda poesia com Robert Lowell. Em 1959, o casal regressa a Inglaterra. Frieda Rebecca, a filha, nasce em 1960, no mesmo ano em que Sylvia Plath publica o seu primeiro livro: The Colossus and other Poems. Publicará apenas mais um livro em vida, The Bell Jar, saído em 1963 sob o pseudónimo de Victoria Lucas. Até lá, nasce Nicholas Farrar, o segundo filho, Ted Hughes abandona-a para ir viver com a belíssima Assia Gutmann Wevill, mulher do poeta canadiano David Wevill. A separação desencadei um processo irreversível de auto-destruição. Plath destrói grande parte do seu trabalho, queixa-se à mãe de que Ted não a ajuda no sustento dos filhos, o que não era inteiramente verdade, até que, no dia 11 de Fevereiro de 1963, fecha-se na cozinha, abre o gás do fogão e suicida-se. Curiosamente, Assia Gutmann Wevill acabou por se suicidar do mesmo modo, mas depois de ter assassinado a única filha do casal: Alexandra Tatiana Elise, de 4 anos. Ted Hughes dedicou parte da sua vida a cuidar da obra deixada por Sylvia Plath, isto apesar das acusações que sempre o apontaram como o grande responsável pelo suicídio da autora de Ariel. Ted Hughes morreu em 1998, vítima de um enfarte. Nicholas, o segundo filho do casal, tornou-se biólogo como o avô. Enforcou-se, no passado dia 16 de Março, na sua casa do Alaska. Tinha 47 anos. Frieda Rebecca Hughes é pintora, poeta e autora de livros infantis.

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