segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O REALISMO LÍRICO DE YESENIN


Sergei Yesenin nasceu para dar nome a uma cidade. Porque os calendários são mentirosos, diremos que foi a 3 de Outubro de 1895. Andou enrolado com a poesia do proletariado e com os imaginistas, mas as suas raízes camponesas transformaram-no numa das vozes mais simbólicas de um campo a ruir sob o peso da cidade. Viveu dois anos na companhia de Anna Izriadnova, de quem teve um filho. Em 1917, casou com Zinaida Raikh, de quem teve uma filha e um filho. Dizem que Padúnitsa (1916), a sua primeira colectânea de poemas, se refere a uma festa pagã da Primavera. Os mortos são comemorados, os animais têm nome próprio, as plantas ganham vida. Desertou do exército, vindo posteriormente a chocar a crítica conservadora com uma poesia blasfema: «Eu não queria enganar-me, porém / Trago uma ansiedade no coração confuso. / Porque é que eu passo por ser um charlatão, / Porque é que eu passo por ser um escandaloso? // Nem biltre fui nem ladrão de estrada, / Nem fuzilei inocentes na prisão. / Sou apenas um pobre boémio / Que sorri a todos os que encontra» (trad. Manuel de Seabra). E encontrou muitos, como veremos. Desiludido com bolcheviques, divorcia-se da Rússia revolucionária. Divorcia-se igualmente de Zinaida. Em 1922, casa com a bailarina americana Isadora Duncan. Há quem defenda que se casou antes com a fama de Isadora, embora cedo comece a demonstrar um enorme desprezo pelo espírito filisteu dos americanos. Regressou à Rússia, deprimido, neurasténico, a sofrer de alucinações provocadas pelo excesso de álcool. O que a América pode fazer a um bom poeta Russo! Com ou sem Isidora, Yesenin tornara-se alcoólico. Vivia obcecado com a ideia do suicídio: «Agora já não quero sofrer mais. / É tempo de lavar o coração confuso» (idem). Atirou-se para a frente de um comboio, tentou saltar de um quinto andar, automutilou-se. Escreve no famoso poema Carta a Minha Mãe: «Eu não sou um bêbado tão inveterado / Para morrer sem te ver primeiro»; «Demasiado cedo o sofrimento e o cansaço / Encheram totalmente a minha vida». Mas o alcoolismo agravou-se, a vida desregrada e boémia passada nas tavernas de Moscovo, entre prostitutas e canalhas, levou-o à separação dos imaginistas e a mais um filho, desta feita de uma relação com Nadezhda Vol'pin. Entretanto, casara-se com Sof'ia Tolstaia, sobrinha-neta de Tolstoy. Foi internado com um esgotamento nervoso, até que a 28 de Dezembro de 1925 acaba por se enforcar num hotel de Leninegrado. Os seus livros foram banidos pelas autoridades comunistas, que viam na poesia de Yesenin uma desautorização das doutrinas impostas pelo realismo socialista. Só na década de 1960 a sua poesia foi reabilitada. Várias mulheres e, ao mesmo tempo, várias tentativas de suicídio, levam-nos a crer na estupidez dos críticos. Poesia mais realista, não nos parece ser possível:

ADEUS, MEU AMIGO, ADEUS

Adeus, meu amigo, adeus,
Querido amigo, que trago no coração.
A separação predestinada
Para mais tarde promete novo encontro.

Adeus, meu amigo, sem aperto de mão nem palavras,
Não lamentes e não haja dor nem pena, ─
Nesta vida morrer não é nada de novo,
Mas também nada de novo é viver.

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