«Um acto tão simples como abrir os olhos». Preto, criado num bairro da lower middle-class, em Newark, menos exposto à discriminação que a maioria dos afro-americanos nascidos por aquelas bandas em meados dos anos 30 do século passado, mas ainda assim preto, um estigma que nos states faz(ia) toda a diferença. Estudos religiosos, artísticos e filosóficos em três universidades: Rutgers, Columbia, Howard. Há quem diga que abandonou a universidade inconformado com as rotinas académicas. A verdade é que, aos 20 anos, entra para a US Air Force e chega a sargento. Uma carta anónima acusando-o de comunista recambia-o para a cozinha. Muda-se para Greenwich Village, Nova Iorque, onde viverá entre 1957 e 1965. Desenvolve um profundo interesse pelo Jazz, entra em contacto com o movimento Beat, casa com Hettie Cohen ─ com quem editará a revista Yugen, mas que abandonará mais tarde para se juntar ao movimento Black Nationalism ─, priva com vários músicos, com os poetas da Black Mountain, adopta um estilo de vida boémio que, pouco a pouco, vai sendo superado pelo activismo político. «Simplesmente entrar nas coisas pouco a pouco». Em 1958, funda a Totem Press. Aí publicarão, entre outros, Allen Ginsberg e Jack Kerouac. A consciência crítica, social e política, aguça-se depois de uma viagem a Cuba, em 1960. Publica o primeiro livro de poemas um ano depois: Preface to a Twenty Volume Suicide Note. No entanto, será com um ensaio, Blues People: Negro Music in White America (1963), e com uma peça de teatro, Dutchman and The Slave (1964), que granjeará algum reconhecimento. A peça recebe um Obie Award, o qual não servirá para colar o poeta ao mundo dos brancos. Malcolm X é assassinado, o autor de Home: Social Essays (1965) abandona tudo e todos e muda-se para o Harlem, onde organiza o Black Arts Reportory Theater e publica o romance autobiográfico The System of Dante’s Hell. «Mesmo assim, sombras arrastar-se-ão sobre a nossa carne para esconder a nossa desordem, as nossas mentiras». Casa com Sylvia Robinson, adopta um nome muçulmano, é preso e condenado a três anos de prisão durante os tumultos que se seguem ao assassinato de Martin Luther King, Jr., sentença revogada após recurso. Black Magic, publicado em 1969, consolida a separação dos Beat: «Poems are made by fools like Allen Ginsberg, who loves God, and went to India only to see God, finding him walking barefoot in the street, blood sickness and hysteria». O período Black Nationalist é marcado pelo ódio aos brancos, aos judeus e aos homossexuais com quem se havia relacionado toda a vida. Acaba por ser um período de auto-negação. «Estou angustiado. Pensando nas estações, como passam, como eu passo, a minha própria juventude, a doçura sazonada da minha vida; escoada…» 1974 é o ano da inflexão marxista. Distancia-se do Black Nationalism e aproxima-se dos movimentos anti-imperialistas. Escaramuças familiares condená-lo-ão a um breve período de trabalho comunitário. Em 1989, é-lhe atribuído o American Book Award. A controvérsia em torno dos seus livros é permanente. Acusado de racismo, sexismo, homofobia e anti-semitismo, Amiri Baraka, outrora conhecido como LeRoi Jones, nasceu a 7 de Outubro de 1934. A sua obra tem sido vastamente premiada e reconhecida.
1 comentário:
obrigado
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