...o senhor Herberto Helder nasceu no Funchal a 23 de Novembro de 1930, perdeu a mãe aos 8 anos, dizem que estava doente desde o nascimento do filho, completou o 5.º ano do liceu no Colégio Lisbonense e, já em Lisboa, concluiu o 7.º ano do liceu na Escola Luís de Camões, frequentou o 1.º ano de Direito e o curso de Filologia Românica na Universidade de Coimbra, publicou os primeiros versos, entre 1952 e 1954, na colectânea Arquipélago, regressando posteriormente a Lisboa para trabalhar na Caixa Geral de Depósitos e como angariador de publicidade do Anuário Comercial Português, publicou poemas na colectânea Poemas Bestiais, colaborou no jornal A Briosa, regressou ao Funchal para trabalhar no Serviço Meteorológico Nacional, o pai negou-lhe o pecúlio necessário para zarpar para o Brasil, zarpou novamente para Lisboa, frequentou o grupo do Café Gelo, trabalhou como delegado de propaganda médica, colaborou no semanário Re-nhau-nhau, nas revistas Búzio, Folhas de Poesia, Graal, no suplemento Ágora do semanário Voz do Tejo e no suplemento Diálogo do jornal Diário Ilustrado, subscreveu, com João Rodrigues e José Sebag, o texto O Cadáver Esquisito e os Estudantes, casou com Maria Ludovina Dourado Pimentel, Luiz Pacheco publicou-lhe, na Contraponto, o primeiro livro, disse Pacheco: Oh Herberto, você escolha o seu poema que preferir, achar melhor, e traga. Gostava de o editar. O Herberto daí a dias trazia um poema, hesitou um tempo no título («Um Amor Feliz» teria sido uma hipótese, parece-me) e acertou em «O Amor em Visita», e depois disto colaborou nas revistas Cadernos do Meio-Dia, KWY e Folhas de Poesia, partiu para França, nasceu-lhe a filha Gisela Ester Pimentel de Oliveira, viveu, entre 1958 e 1960, na França, Bélgica, Holanda, Dinamarca, sobrevivendo de actividades tais como criado de cervejaria, cortador de legumes, enfardador de aparas de papel, policopista, operário nas forjas da Clabeck, carregador de camiões, ajudante de pasteleiro, guia de marinheiros em bairros de putas, colaborou na revista Pirâmide, regressou a Lisboa com bilhete de repatriado, passado em Antuérpia, viveu em Coimbra, recuperou de uma avitaminose, começou a trabalhar como encarregado de biblioteca das Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, publicou A Colher na Boca e Poemacto em 1961, publicou Lugar em 1962, colaborou no jornal Távola Redonda, passou a armazenista das Bibliotecas Itinerantes da Gulbenkian, publicou Os Passos em Volta em 1963, traduziu literatura explicativa de medicamentos para laboratórios, co-organizou, com António Aragão, o n.º1 de Poesia Experimental, traduziu Hans Christian Andersen e Italo Calvino, trabalhou na Emissora Nacional, foi sujeito a testes psicofisiológicos no Serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria, publicou mais, colaborou muito, reeditou, fez publicidade como copywriter para cinema, publicou, em 1968, Apresentação do Rosto, apreendido pela Censura, concedeu entrevistas ao Jornal de Letras e ao Jornal de Notícias, foi condenado a pena suspensa por causa do envolvimento na edição de Filosofia na Alcova, abandonou a grupoterapia, trabalhou num atelier de arquitectura, participou como actor no filme As Deambulações do Mensageiro Alado, gravou dois discos de poemas seus, foi director literário da Editorial Estampa, nasceu-lhe Daniel João Figueiredo de Oliveira, filho da relação com Isabel Figueiredo, viajou pela Europa, partiu para Angola em 1971, onde fez reportagem para a revista Notícias sob vários pseudónimos, publicou Vocação Animal, onde se afirmava que o autor deixara de escrever em 1968, em 1972 sofreu um acidente de viação, regressou a Lisboa, fez a reportagem de um Benfica-Sporting, publicou, em 1973, os dois volumes antológicos de Poesia Toda, viajou a Nova Iorque, casou-se com Olga da Conceição Ferreira Lima, trabalhou como redactor de noticiários da RDP, viajou, durante vários meses, por Paris, Le Mans, Cambridge e Londres, passou discretamente pelo PCP, publicou, em 1979, Photomaton & Vox na Assírio & Alvim, editora que, desde então, passará a publicar praticamente toda a obra do poeta, fazem-se teses sobre a sua poesia, escrevem-se artigos, proferem-se sentenças, subscreveu, em 1993, um pedido colectivo, dirigido à Secretaria de Estado da Cultura, no sentido de ser atribuído um subsídio mensal ao poeta António Gancho, internado há 26 anos no hospital psiquiátrico do Telhal, Vítor Silva Tavares sobre ele, Herberto, disse: pode supor-se que logrou endoidar psiquiatras, mestres zen e analistas literários, uma sua imagem virtual foi materializada no plenário fascista em réu de crime sádico não cometido, um dia do PREC escapou de boa (tareia) ao ser tomado por Manuel Alegre, o susto tê-lo-ia conduzido, presume-se, à entrada-por-saída no Partido Comunista (só a intriga é revolucionária!), não consta da lista telefónica apesar das contabilizadas inconfidências do Vergílio Ferreira, crê-se que escreverá algures, por certo à mão armada, e oculto, não gosta de ser fotografado, recusa prémios, aparece de quando em vez para dar um ar da sua desgraça. FONTE: JL.
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