segunda-feira, 2 de novembro de 2009

ESPADACHIM

Um solitário com os olhos lançados no horizonte da criação. Odysséas Elytis nasceu em Iráklion, Creta, no dia 2 de Novembro de 1911. Os pais eram gente próspera oriunda de Lesbos, a cidade de Safo. Mudaram-se para Atenas, onde o poeta estudou Direito, entre 1930 e 1935, sem ter terminado o curso. Trabalhava esporadicamente nos negócios da família, uma fábrica de sabonetes. Inicialmente influenciado pelo surrealismo francês, publicou os primeiros poemas na revista Néa Grámmata. Lembramos parte do posfácio que Manuel Resende escreveu para a louvável tradução portuguesa de Áxion Estí: «Os jovens que na década de trinta se lançaram na Grécia à conquista da instituição literária queriam um renascimento nacional e uma reinserção da Grécia no mundo moderno. (…) Recusavam as formas estereotipadas dos poetas instalados, os quais se limitavam a imitar adormecidamente os mesmos ritmos e temas dos neo-românticos e neo-simbolistas e se perdiam no respirar de um pessimismo que se tornara moda. (…) Eram jovens de educação burguesa cosmopolita, mais ou menos próximos do partido liberal de Venizélos, mas demonstravam certo desprezo pelos estratos dominantes da burguesia (a burguesia que, dizia Elytis, «antes de se pôr a jogar à canastra, já fora uma força criadora»). Não eram, porém, os únicos escritores novos. Noutros quadrantes, surgiam Ritsos (prisioneiro por uns tempos dos dogmas do realismo socialista, mas estrangeiro no seu próprio campo), ou os surrealistas agrupados em torno de Andréas Empeiríkos, Níkos Kalamáris (ou Nikíta Rántos, ou N. Calas, pseudónimos que utilizou) e Níkos Engonópoulos. Foi com este grupo que Elytis afiou as suas espadas» (Assírio & Alvim, Março de 2004). Enfim, bons exemplos que o tempo levou. A primeira colectânea de Odysséas Elytis surgirá em 1940 com o título Orientações. Durante a Segunda Guerra Mundial, quando os alemães invadiram a Grécia, o poeta juntou-se à resistência e serviu na Albânia. Finda a guerra, escreveu crítica para o jornal Kathimerini ─ deixou uma obra crítica extensíssima ─ e trabalhou na imprensa nacional. Mudou-se para Paris em 1948, onde estudou literatura na Sorbonne e conheceu alguns artistas e intelectuais da época. De novo na Grécia, assumiu vários cargos de relevo cultural durante um período que serviu também para elaborar a mais difícil e ambiciosa das suas obras, o livro Áxion Estí (Louvada Seja), dado à estampa em 1959. Entretanto, tinha publicado apenas dois poemas em revistas: Canto Heróico e Fúnebre pelo Alferes Caído na Albânia e A Bondade na Vereda dos Lobos. Louvada Seja tem sido comparado a Canto de Mim Mesmo de Whitman, foi musicado por Míkis Theodorákis, foi cantado como sinal de resistência durante a ditadura dos coronéis, novo período de exílio francês para o poeta, demorou 14 anos a ficar concluído, transformou Elytis num “poeta oficial”. Em 1978 publica uma outra obra fundamental, Maria Neféli, e em 1979 é-lhe atribuído o Prémio Nobel da Literatura. Odysséas Elytis nunca casou, viveu os últimos anos na companhia da poeta Ioulita Iliopoulou. Morreu de ataque cardíaco em Março de 1996.

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