sábado, 21 de novembro de 2009

UM BERÇO COSMOPOLITA

Nascido num berço cosmopolita, Nazim Hikmet viu a luz do dia, pela primeira vez, a 21 de Novembro de 1901. Foi em Salónica, ainda com o nome Mehmet Hazim. A mãe era pintora, tocava piano e descendia de famílias polacas. O pai era filho de um poeta liberal, mas enveredara pelo serviço público. Foi demitido e investiu parte das posses num malogrado negócio, regressando posteriormente, como tradutor, ao Ministério dos Negócios Estrangeiros turco. Acabou como gerente de um cinema. Nazim Hikmet cresceu num ambiente progressista e culto, estudou num liceu onde se falava a língua francesa, começou a escrever poemas sob influência do avô, acabando por entrar para a Escola Naval em 1917. Chegou a graduar-se, mas teve de abandonar a marinha devido a problemas de saúde. A experiência durou três anos. 1920 será um ano marcante: ganha um concurso de poesia promovido pelo jornal Alemdar, escreve poemas de resistência contra a ocupação de Istambul, junta-se, com outros poetas, a um grupo de combatentes ligados ao Partido Comunista. É destacado como professor numa escola de Bolu, partindo posteriormente para a União Soviética à procura de formação mais consistente. Estudará sociologia e economia da Universidade de Moscovo. Influenciado pela escrita de Mayakovski, começa a escrever poemas de verso livre que faz publicar em diversos jornais. Regressa à Turquia, ilegalmente, no ano de 1924. Trabalha para o jornal Aydınlık, escreve argumentos para filmes e peças de teatro. É perseguido pela polícia, capturado e condenado. A sua voz literária era ouvida e temida. Passará vários anos na clandestinidade, vivendo entre a URSS e a Turquia com passaportes falsos, sendo capturado, detido, julgado. Grande parte da sua vida foi passada nas prisões. Apesar disso, os seus trabalhos iam sendo publicados. Casa com Piraye Altınoğlu a 31 de Janeiro de 1935, após uma relação suspensa durante cinco anos por causa dos interrogatórios e das detenções a que Nazim Hikmet era sucessivamente sujeitado. Já tinha casado duas vezes anteriormente, na União Soviética. Primeiro, com Nüzhet Hanım; depois, com Dr. Lena - relações frustradas pelas saudades da pátria. Nazim Hikmet sobrevive do que publica nos jornais, desde anedotas a contos assinados por variadíssimos pseudónimos. No final de 1936 é novamente preso, o que voltará a acontecer em Janeiro de 1938, saltando de prisão para prisão, onde lia poemas aos colegas de cela e ouvia-lhes as mais apuradas críticas. Finda a Segunda Grande Guerra, a liberdade não lhe é concedida. Entra em greve de fome a 8 de Abril de 1950, agravando os problemas de coração. Foram precisas outras greves de fome, muitos quilos perdidos, o corpo a entrar em delírio para que a liberdade chegasse a 15 de Julho de 1950. Em liberdade, divorcia-se de Piraye e casa com Münevver Andaç, uma prima que o visitara regularmente na prisão. Trabalha como guionista, tem um filho, continua a ser vigiado pela polícia, não consegue levar as suas peças à cena e vê os seus livros serem censurados. Obrigado a cumprir o serviço militar que fora interrompido por problemas de saúde, foge para a Roménia. Abdica da cidadania turca e naturaliza-se polaco. A polícia persegue Münevver e o filho enquanto o poeta granjeia fama no estrangeiro, marcando presença em congressos, visitando vários países, sendo traduzido em várias línguas. Recebe o Prémio Internacional da Paz e assume um papel de relevo no Conselho Mundial da Paz, ao mesmo tempo que começa a inquietar-se com o regime estalinista. Longe da mulher e do filho, apaixona-se por Galina Grigoryevna Kolesnikova, a médica que lhe tratou uma pneumonia no sanatório de Barvikha. Uma das suas peças é censurada em Moscovo após a noite de estreia. O autor sofre uma depressão, pensa em suicidar-se, mas um novo amor captura-o da morte. Vera Tulyakova, assim se clamava a jovem, era casada e tinha uma filha. Nazim era seis anos mais velho que o pai de Vera, oferece-lhe chocolatinhos e flores, trabalham juntos num argumento e numa peça de teatro, começam a viver juntos. Casam a 18 de Novembro de 1960. Após uma lua-de-mel em Paris, Nazim foi a Cuba levar um prémio a Fidel. Conhece Joyce Salvadori Lussu, uma delegada italiana do Conselho Mundial da Paz. Joyce desconhecia a recente relação de Nazim com Vera. Ao visitar Istambul no ano de 1960, conheceu Münevver Andaç e comprometeu-se a ajudá-la a sair da Turquia. Quando Nâzım Hikmet regressa de Cuba, encontra-se com a ex-mulher. Vera não aprecia a história, mas tudo acaba por se resolver. Münevver fica a viver com os filhos na Polónia, Nâzim e Vera permanecerão em trânsito pelo Egipto, Praga, Berlim, Leipzig, Bucareste, Itália, Paris, Moscovo, etc. Nazim Hikmet morre a 3 de Junho de 1963, vítima de ataque cardíaco, na casa de Moscovo, ao lado da sua jovem mulher.

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