sábado, 26 de dezembro de 2009

JUAN & ZENOBIA

Raízes e asas. Mas que as asas enraízem
e as raízes voem.

Era o filho mais novo de uma família abastada. Nasceu a 23 de Dezembro de 1881, baptizaram-no de Juan Ramón Jiménez. Moguer, no sul da Andaluzia, foi o berço geográfico do poeta. Fez os estudos secundários num colégio interno de jesuítas. Depois foi para Sevilha estudar Direito. A influência do pai, um homem rico da província de Huelva, foi decisiva. Mas Juan não prescindiu, por iniciativa própria, dos estudos de pintura, que acumulou com as aulas de Direito. Lia os poetas espanhóis da época: Bécquer, Rosalia de Castro, Verdaguer. Em 1897 publicou num jornal local um poema inspirado nos versos de Bécquer. Começa a publicar com alguma regularidade na madrilena Revista Nueva. A revista, de inspiração modernista, meteu Juan Ramón Jiménez em contacto com outros poetas, nomeadamente o boémio Francisco Villaespesa, a quem Ramón ficará a dever a convivência com o nicaraguense Rubén Darío. Juan Ramón chega a Madrid a 13 de Abril de 1900. O ambiente algo bucólico de Moguer contrasta com a agitação da capital espanhola. Para agravar a deslocação, o pai de Juan morreu subitamente, originando no poeta uma raiz de pânico que virá a atormentá-lo pelo resto da vida. Publica os primeiros livros, Ninfeas e Almas de violeta, ajudado por Darío. Em 1901 é internado num estabelecimento psiquiátrico perto de Bordéus. Aí leu, entre outros, poetas como Baudelaire, Mallarmé e Verlaine. Regressa a Espanha, onde permanece algum tempo no sanatório do Rosario em Madrid. Reunia-se nesse sanatório com outros escritores, formando uma tertúlia da qual nasceu a revista Helios. Ortega y Gasset elogia-lhe o livro Arias tristes, de 1903. Juan Ramón dedica-se inteiramente à poesia, colaborando em várias revistas. Regressa a Moguer, assolado por uma neurose, onde busca o repouso físico que nunca almejou intelectualmente. O convívio com a natureza era reconfortante, mas a ruína económica da família anunciava novos períodos de desespero. Parte novamente para Madrid. Em 1913 conheceu Zenobia Camprubí Aymar, com quem veio a casar a 2 de Março de 1916. A família de Zenobia estava contra o casamento, pelo que os dois resolveram dar o nó na cidade de Nova Iorque. A digressão americana motiva a escrita de Diario de un poeta reciencasado (1916). Em Nova Iorque, o poeta foi nomeado membro da Hispanic Society os America. O casal regressa a Madrid em 1916, Juan Ramón publica a edição completa do livro Platero y yo, publica livros de poemas, uma «antologia, Poesías escogidas, que inicia um singular processo de publicação da sua poesia: à selecção de livros anteriores junta versos de livros nunca publicados». Traduz, com Zenobia, livros de Rabindranath Tagore, edita várias revistas, entre as quais se destacam Índice, e Ley. A relação com Zenobia é reforçada por uma vida de trabalho conjunto. Viajam por França, Nova Iorque, Porto Rico, Cuba, até finalmente se instalarem em Coral Gables, perto de Miami, iniciando uma profícua colaboração com universidades norte-americanas. Em 1940 o poeta é novamente hospitalizado. As depressões nervosas repetem-se ao longo dos anos. Aconselhada por um médico, Zenobia tenta viver com Juan Ramón em Porto Rico. Não se vislumbram quaisquer melhoras. No final de 1951, a própria Zenobia é operada a um tumor no útero. O poeta sofre uma recaída e volta a ser internado. Em 1956 Zenobia é novamente atacada por uma doença cancerígena. Tenta convencer o marido a regressar a Espanha, para que ele pudesse ficar junto aos seus familiares após a morte que se avizinhava. O poeta recusa. Quando comunicam a Juan Ramón Jiménez a atribuição do Prémio Nobel da Literatura, Zenobia já não conseguia falar. Morreu três dias depois, a 28 de Outubro de 1956. Juan Ramón morrerá na mesma clínica, um ano e meio mais tarde, a 29 de Maio de 1958.

Fonte: Prólogo de José Bento à Antologia Poética de Juan Ramón Jimenez publicada pela Relógio D’Água.

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