Com este post, dou início a uma série que pretende ser um contributo, ainda que singelo, para a imaginação do presidente da CIP, senhor Francisco Van Zeller. Ele não consegue imaginar-se a viver com 450€ por mês, mas eu mostro-lhe como se vive com o ordenado mínimo nacional neste país. A ideia, obviamente, não é corroborar a oposição ao aumento do Salário Mínimo, mas tão-somente deixar bem claro que é possível viver com imaginação num país governado por gente sem imaginação alguma. Já suficientemente fodido, eu só não quero que os Van Zeller deste mundo me fodam ainda mais. Não é pois por acaso que escolho para primeiro exemplo o sistema hi-fi cá de casa, garantia de uma réstia de sanidade mental que a toda a hora ameaça ruir. Conquistei-o com o 9.º ano de escolaridade. Sempre foi tradição familiar oferecer música aos filhos que demonstrassem bom comportamento escolar. Eu cumpri e fui aprovado. Tive aquilo a que as minhas irmãs tiveram direito, embora numa versão mais moderna que incorporava, para lá do prato de vinil e do leitor de cassetes, um original leitor de CDs. Sou o mais novo de três irmãos. Fiquei a ganhar. A mais velha só teve direito a vinil, a do meio ainda apanhou um leitor de cassetes. Eu fui o único agraciado pelo digital, já lá vão mais de 20 anos. Portanto, há mais de 20 anos a trazer-me música aos ouvidos, este magnífico aparelho da marca SONY tem sido o garante de muitas alegrias insultadas recorrentemente por aqueles que julgam ser aceitável um mísero ordenado mínimo nacional de 450€ mensais. Em posts subsequentes poderá o senhor Van Zeller verificar que esta conquista não é de todo desprezível, pois o pouco que tenho devo-o às boas tradições familiares que me outorgaram, por herança ou mérito próprio, um certo conforto burguês. Se tivesse dinheiro, investia numa coisa mais modernaça com leitor mp3, som surround não sei das quantas e todas essas merdas que me escapam por não me sobrar tempo para pensar nelas. Tenho de trabalhar para pagar a conta da luz e o preço dos CDs está pela hora da morte. (0)
9 comentários:
Pequena provocação linguístico-burguesa: um sistema da Sony com mais de vinte anos (e, presumo, com prato de discos em vinil, leitor de CDs e deck de cassetes num mesmo bloco) nem sequer é hi-fi. "Merdas" é o termo certo para os sistemas surround quando a intenção é ouvir música. Ah, e os CDs estão mais baratos do que há vinte anos mas mesmo assim ninguém os compra, pelo que o salário auferido - palavra demasiado refinada para a miséria que €450 representam, admito - é irrelevante).
Este comentário é só para reconhecer que sou tão cego que há pouco nem reparei na fotografia e, já agora, que deixei um parêntesis a mais no comentário anterior, fechando qualquer coisa que nunca foi aberta (deve haver uma explicação psicanalítica para um comportamento destes).
Nem sequer é hi-fi? Isso é uma tentativa de denegrir a minha “aparelhagem”. A verdade é que, tal como disse no post, não tenho tempo para me dedicar a essa nobre arte de distinguir hi-fi de surround (que nem sei o que é :) de outras maravilhas da tecnologia sonora. Quanto aos CDs, sou dos que continuam a comprar (cada vez menos, é certo). Não faço pirataria, gosto das capas, de ir lendo as letras (quando as há), de folhear a música… Perdoem-me a metáfora. E agora há umas “encadernações” todas catitas. Podia piratear, mas perdia pelo menos metade do gozo que me dá ouvir um bom CD. Um homem não vive sem vícios, mesmo com um mísero salário de 450€.
O Homem vive de vícios, quando mais não seja vir aqui ler-te. E nisso não é necessário qualquer tipo salário.
:)
É a segunda vez que me dizem algo parecido hoje. Começo a ficar preocupado. Espero que depois não me cobrem nada pelas desintoxicações.
Eu também não pirateio música, caro hmfb. Até paguei 6,11 libras (na altura pareceu-me o valor adequado) pelo álbum que os Radiohead disponibilizaram online. E o seu sistema tem o romantismo dos primeiros amores. O meu primeiro leitor de CDs encontrava-se num rádio portátil Sanyo que ressoava por todas as juntas mas ainda penso nele com carinho.
Yo confieso: piratié, pirateo y piratarié todo lo que se me cruce. Tengo mis razones particulares, personales y razonables para hacerlo (autoconvencimientos más que necesarios para los que cometen felanías y no desean sentir remordimientos). Cierro paréntesis que abrí...
Yo confieso: tengo otras adicciones pero ninguna que me cueste el sueldo (puedo sobrevivir con 450 euros Sr. Van Zeller, por mi Ud. no se preocupe). Cierro paréntesis...
Yo confieso: además del sexo, las peliculas de Woody Allen (pirateadas por supuesto)y los textos del sr. hmbf son mis mayores adicciones del momento.
Jamás piratearía el sexo (en particular porque sería muy complejo materializar un ser humano que se descarga en la computadora.
Jamás piratearía un libro, por el particular placer que me provoca el olor de las páginas...
En fin, yo confieso...tengo vícios. Pero no le cuenten a nadie y si alguien me llegara a preguntar "yo jamás pirateo señor, no sé qué hacen todas esas músicas y programas en mi pc"
PD: cierro el paréntesis que abrí y nunca cerré...
Yo confieso: no me confieso.
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