sábado, 2 de janeiro de 2010

ODE


A miúda de James Bond
Está na cama, com
Um pesadelo durante uma trovoada
Todas as folhas caíram:
Dois homens no espaço,


Uma senhora com o cão,
Uma senhora com o filho,
Uma árvore casa, pequenas cabanas e barcos,
E homens apanharam pardais
Para levar para outro país

Aarão ficou no templo
Mas Mrs. Grub foi ao dentista
Deixando o filho com bexigas doidas
Chovia dentro de casa
Nevava nos carros da polícia

E assim a menina mimada
Que arrasta o cabelo
Baixo baixo baixo no tapete de treino
Libertando o poder da serpente
Da sua espinha atrás dela

Ouve a coruja
Que já não grita
Ofuscada por faróis por assim dizer
E atravessando a estrada, a árvore vazia,
E a mente mais vazia do que antes, e mais livre.

The Paris Review, n.º53, 1972.

Tradução de Manuel de Seabra.


O poeta David Shapiro nasceu a 2 de Janeiro de 1947, em Newark, Nova Jersey. Estudou na Universidade de Columbia e em Cambridge. É muitas vezes apresentado como uma criança prodígio, que aos dez anos lia e decorava versos de Milton, Shakespeare, Blake e Eliot. Foi distribuindo interesses por matérias tão diversas tais como música, matemática, pintura, arquitectura e poesia. Em criança tinha o sonho de vir a ser violinista, talvez influenciado pelo avô, um conhecido hazzan (condutor da liturgia) da comunidade Yiddish norte-americana. Começou a escrever poesia com nove anos e um ano depois publicou os primeiros versos na Antioch Review. Aos dezoito anos editou o primeiro livro, uma colectânea intitulada January. A família preferia que tivesse seguido a carreira de violinista, mas os elogios de outros autores acabaram por ditar uma carreira noutras músicas. Colaborou com várias revistas: Poetry, Art and Literature, The Paris Review, etc., tornando-se rapidamente conhecido entre poetas influentes como John Ashbery, Frank O’Hara e Diane DePrima. Em 1968, granjeou alguma notoriedade junto dos movimentos contestatários ao ser fotografado, juntamente com outros estudantes, a ocupar o escritório de Grayson Kirk, então director da Universidade de Columbia. Dois anos mais tarde casou-se com Lindsay Stamm, arquitecta e designer, de quem teve um filho, Daniel, também ele poeta. Historiador de arte com formação em literaturas comparadas, David Shapiro havia crescido num ambiente de convívio entre artistas reputados. O pai era escultor, a mãe cantora lírica, um dos tios era pianista e publicou poemas no New York Times. A dimensão poliglota e cultural da sua vida reflectiu-se na obra, dando azo a várias colaborações com arquitectos, poetas associados à denominada New York School (movimento avant-garde iniciado na década de 1950 ainda na esteira da beat generation), músicos como John Cage, o filósofo Jacques Derrida, o cineasta Rudy Burckhardt, entre muitos outros. Escreveu ensaios sobre Jasper Johns, Jim Dine, Piet Mondrian, entre outros. Co-editou, com Ron Padgett, An Anthology of New York Poets. Foi professor na Universidade de Columbia, no Bard College, na Universidade de Princeton…Traduziu Rafael Alberti, poemas de Picasso e os escritos de Sonia e Robert Delaunay. Tem um percurso vastamente premiado. Para ver e ouvir: aqui.

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